Mais vale prevenir <br>que remediar

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Rodeia Machado

técnico de segurança social

No momento em que estou a escrever esta crónica veio-me à memória os fatídicos dias 5 e 6 de Novembro de 1997 (faz exactamente hoje 9 anos), em que se deram as grandes inundações no Alentejo, com particular destaque na Aldeia do Carregueiro, concelho de Aljustrel, em que se perderam muitas casas e muitos haveres, mas onde se perderam, acima de tudo, vidas humanas.
Foi exactamente na tarde/noite de 5 para 6 de Novembro de 1997 que as cheias atingiram as populações de uma forma brutal e um pouco por todo o Distrito de Beja, com particular incidência em Quintos, onde arrastou viaturas e destruiu a ponte que dá acesso à aldeia; na Cabeça Gorda, onde destruiu casas e arrastou bens, e sobretudo arrastou pastos, terras, pedras e muita lama, que deixaram a povoação “virada do avesso” e a população residente aflita com tal situação e os ausentes com preocupações acrescidas sobre as condições em que estavam os seus familiares.
Mas igualmente as localidades de Funcheira e Garvão foram atingidas de forma dramática, pois o leito da ribeira transbordou como nunca tinha acontecido e arrastou consigo casas e haveres, que foi espalhando ao longo das margens e onde as águas se conseguiram efectivamente espraiar.
Mais a Sul, no concelho de Odemira, a povoação de Sabóia também foi bastante castigada pelas fortes chuvadas e na vila de Odemira as zonas baixas foram também bastante atingidas provocando prejuízos aos proprietários dos estabelecimentos.
Mas foi sobretudo na localidade do Carregueiro, onde a situação foi mais dramática, pela perda de bens que trouxe, mas sobretudo pela perda do maior bem que temos: a Vida Humana.
Pereceram ali pessoas, onde jamais se pensaria que tal fosse possível, mas os erros humanos pagam–se caros.
A execução da circular externa, junto à povoação do Carregueiro, da Estrada Nacional que liga Aljustrel a Castro Verde e vice-versa, e a parte sobre o caminho de ferro, terão tido certamente algumas responsabilidades nesta situação, mas são sobretudo as alterações climatéricas (por acção do homem) que levam a que as chuvas caiam de forma desordenada e onde menos se espera, como é o caso do que neste momento se está a passar.
Chove demasiado, num curto espaço de tempo, e as ribeiras não aguentam tanta água, transbordando e criando as condições para inundações.
Dirão alguns que cheias sempre houve e sempre haverá, mas na nossa região os registos são mais no Guadiana, na fustigada vila de Mértola e noutras zonas ribeirinhas.
Nesta altura do ano, no mês de Novembro, as temperaturas estão muito acima das médias e as trovoadas, que tão características eram nos meses de Maio e Junho, são agora muito fortes, no Inverno.
Tudo isto devia apelar à nossa memória, para que fizéssemos um esforço no sentido de actuarmos de forma diferente, para com o clima, mas sobretudo para que os governantes actuassem de forma diferente e aplicassem políticas mais favoráveis ao ambiente, mas que também não esquecessem que as políticas de ordenamento do Território podem e devem ser conduzidas de uma forma mais correcta, isto é, não permitindo que se construa em leitos de cheia e que, sobretudo, as obras hidráulicas e outras, que tão necessárias são ao nosso desenvolvimento, obedeçam a princípios de segurança, que o mesmo é dizer, obedeçam aos princípios de defesa da vida.
Bem sei que existem situações em que não é possível suster os actos da “mãe natureza” e que as catástrofes naturais podem acontecer em qualquer região do globo, mas “mais vale prevenir do que remediar”, e neste preciso momento estamos mais preocupados em remediar já que pouco prevenimos, quando era necessário que o fizéssemos.
É costume dizer-se que a “Protecção Civil” somos todos nós, mas não é menos verdade que cabe ao Estado, ao Governo, a qualquer governo, a responsabilidade sobre a defesa de pessoas e bens, e nos momentos de aflição, quem vemos em primeiro lugar na defesa dos cidadãos são os Bombeiros (sempre eles) empenhados em apoiar as pessoas, em defender os bens, arriscando a própria vida.
São eles que actuam em nome de todos nós, na certeza de que as suas vidas estão interligadas ao mais nobre sentimento de interajuda, “a Solidariedade Humana”, mas é também em memória daqueles que perderam a vida que temos todos a obrigação de fazer mais e melhor.

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