O presidente do Município de Castro Verde, Fernando Caeiros, em diferentes vagas, veio anunciar duas coisas. Primeira coisa que ele veio anunciar: o desespero. Segunda coisa que ele veio anunciar: a solução. Diz o autarca castrense, coagido, que as sucessivas políticas governamentais para as autarquias (especialmente a Lei das Finanças Locais agora proposta) são asfixiantes, que desta forma municípios pequenos como o seu não têm rumo nem porto, que o mais certo é que tenha que fechar as portas. Teme, por conseguinte, pelo fim, mais ou menos próximo, do seu próprio concelho. E daí o seu desespero.
Compreensível, o desespero. É que Fernando Caeiros é natural de Entradas, Castro Verde, e tem dedicado toda a sua vida àquela terra. Mais do que ele próprio – poderá ser levado a pensar – não haverá quem queira tanto nem melhor para o dito território do Campo Branco e para as gentes que lá persistem. O fim das reservas minerais em Neves-Corvo, sustentáculo único da região nas últimas duas décadas, é algo que cada vez mais se adivinha ou avizinha. A agricultura, em função do esqueletismo dos solos e das campanhas cerealíferas suicidas dos anos 1980, está finada. A auto-estrada não trouxe indústria, nem desenvolvimento, nem emprego. Apenas trouxe carros e pessoas esborrachadas. E ideias também esborrachadas.
Pela primeira vez em muitos anos, os estatísticos sugerem que a curva gráfica do crescimento populacional em Castro Verde siga o caminho que em todo o Alentejo segue: para baixo. E o anunciado fim da exploração mineira poderá levar a uma verdadeira debandada ao jeito do que aconteceu nos êxodos dos anos 1950 e 1960. Dirá o presidente da Câmara de Castro Verde, com toda a legitimidade e bondade que lhe assistem, que é necessário prever e precaver a catástrofe, que necessárias são as alternativas económicas à mina, que a ferida já escorre. Urge uma solução, um penso, uma cosedura, uma prótese. Ou assim.
Incompreensível, a solução. Fernando Caeiros, finda a calamidade subterrânea que sempre está inerente à exploração mineira, está a projectar, como certos comparsas “estrangeiros”, o cataclismo total do seu município, agora à superfície. Diz o edil, em entrevista ao semanário “Diário do Alentejo”, que vai dar um “contributo decisivo” para “repovoar” Castro Verde. Como? Muito simples! Dando licença para que certos empresários caridosos e amigos e desinteressados construam um empreendimento turístico assim para o valentote. Coisa para dar emprego a mais de seis centenas de indígenas e para ocupar uma área superior àquela que a própria vila de Castro ocupa hoje em dia.
Mais disse o autarca que o dito empreendimento turístico gravitará em torno da prática do golfe – nada de grave numa zona onde o mais dos verões nem água há em condições para dar de beber às pessoas, quanto mais para regar a fofa relvinha dos buracos. E o que não disse foi que por detrás do turismo está um empreendimento imobiliário, urbanístico, inaceitável.
Há alguns meses a esta parte que ando a trocar ideias de desenvolvimento com António Camilo, que é presidente do município de Odemira, e que também acha que o seu concelho apenas se poderá desenvolver através do betão. Caeiros, tal como Camilo, gostam das suas terras em demasia para verem para lá do imediato e da banha da cobra. Porque em desespero de casa, querem manter as suas populações e melhorar-lhes as condições de vida. É legítimo. Não é legítimo é que o façam a qualquer preço. Como considero ilegítimo que estes e muitos outros autarcas do Alentejo, quase todos, individual e secretamente, planeiam levantar mamarrachos para turistas ricos ingleses, um pouco por todo o lado. Guetos sem qualquer tipo de planeamento global. Sem qualquer lógica ou estratégia. Sem qualquer nexo. É o desespero. E alguém tem que pôr mãos no desespero.
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