Valerá tudo por tática política?

Carlos Pinto

JORNALISTA | DIRECTOR DO "CA"

“Uma vintena de beatos grisalhos fez um tratado pela família tradicional e o grande pai da austeridade, disciplinador do povo, foi apresentá-lo. Andam muito compinchas, comendo o pão bolorento da velha senhora, arrotando alto, para que se ouça bem. Querem que o mundo saiba o que os seus santinhos acham da vida dos outros. Querem que os seus votos valham em casamento alheio.”

As linhas acima foram escritas pela cantora Capicua nas páginas do “Jornal de Notícias” na passada terça-feira, 9. Na sua origem esteve a apresentação, um dia antes, de Identidade e Família, um livro que conta com 22 contributos de figuras de direita e que pretende “valorizar a família enquanto a primeira instituição contra o relativismo ético, a indiferença e a licenciosidade, a propagação anestesiante da cultura de morte, o positivismo hedonista, o egoísmo geracional, o individualismo predador, o subjetivismo e o fundamentalismo a-histórico”.
Na sua apresentação esteve o antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que aproveitou a oportunidade para defender que tem de haver uma capacidade de as pessoas “se entenderem coletivamente”, aludindo a um eventual acordo entre PSD e Chega, cada vez mais pedido por vários setores da direita.
Que Passos Coelho esteja empenhado em ser Presidente da República e que, para isso, queira contar com o apoio do Chega é totalmente legítimo. Mas é totalmente inadmissível que para alcançar tal desiderato admita um retrocesso nos direitos que a nossa sociedade conquistou, à custa de muita luta, ao longo dos últimos anos.
Perante os “ventos” que sopram de vários quadrantes, e em tempo de celebrar 50 anos do 25 de Abril, não podemos claudicar em prol de discursos populistas, redutores e arcaicos. Caso contrário, não se admirem de voltarmos a ver anúncios como o da farinha de fava d’A Mariazinha, para mulheres a quem o marido batia…

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