Nós, os abstencionistas

Ribeiro dos Santos

Agricultor, Licenciado em História de Arte, Pós-graduado em Estudos Africanos*

Nós, os abstencionistas, os verdadeiros vitoriosos. Os que não necessitámos de campanha eleitoral. Os que não faltámos ao emprego para propagandear as nossas ideias. Os que não recebemos subsídios para as difundir. Os que não delapidámos o Orçamento do Estado. Os que tivemos de trabalhar ao domingo para receber menos do que vocês receberam por estar sentados nas mesas de voto.
Os bota-de-elástico. Os retrógrados. Os desinformados. Os incomodativos. Os quem não somos democratas à vossa maneira. Aqueles que não nos revemos nem num irresponsável “sim” nem num hipócrita “não”. Aqueles que sabemos que o importante é a criação de condições para uma maternidade feliz, e não a penalização ou despenalização duma solução que verdadeiramente não resolve.
Aqueles que assistimos impávidos e serenos ao fecho das escolas onde poderiam ter ido os nossos filhos. Os que vimos fechar as maternidades onde poderiam ir nascer. Os que vimos fechar os centros de saúde que nós e os nossos pais necessitávamos para nos mantermos sãos. Os que vimos partir pela última vez o autocarro e o comboio que nos transportavam. Os que assistimos à degradação das pensões dos deficientes. Os que somos afectados por uma catadupa de decisões arbitrárias, injustas, incoerentes, e muitas vezes ilegais, sem nos perguntarem nada.
Nós, o país real exigimo-vos: regurgitem o champanhe da vossa vitória! Engulam os discursos, as palavras vãs! Devolvam-nos o nosso dinheiro e as nossas condições de vida! Não nos digam que não há verbas para nós, quando elas são gastas desta forma por vocês!
Não quisemos saber do referendo. Não quisemos nem queremos. Perante outros referendos teríamos respondido “sim” ou “não” com gosto, mas esses nunca existiram. Aliás, deste como dos hipotéticos outros, vocês já sabiam de antemão a resposta.
Nós, os abstencionistas, os grandes vitoriosos nos números e os grandes derrotados na vida, se mais não pudermos fazer, lembramo-vos: <b>Existimos!</b>
E já agora, visto que este referendo não foi vinculativo, chamar-nos-ão daqui a oito anos para nos pronunciarmos sobre os resultados do “sim”?!

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