Este último mandado da CDU à frente dos destinos da Câmara Municipal de Beja vai ficar na história como um rotundo falhanço. Quatro anos de uma mão cheia de nada, de um vazio absoluto e confrangedor. Quatro anos a remendar buracos e buraquinhos nas ruas, nas estradas e nas escolas, a arrumar as contas caseiras, e a parir embustes milagreiros e alucinados, entre cidades do cinema, universidades do sul ou do Alentejo, fábricas dos chineses e etc. Para quem está recordado, e para quem não está, recordemo-lo, a candidatura da CDU enganou muita gente com o achado programático de tornar Beja uma cidade da ciência, da tecnologia e da inovação, enfim, uma cidade do saber e do conhecimento. Relendo o programa eleitoral da CDU, encontramos visionários projectos e suculentas promessas como Montes Pedagógicos, Observatórios em espaço rural, cyber “Aldeias” ou “Aldeias” do conhecimento, Parque dos Inventores, Laboratórios de Ciência Viva, observatórios astronómicos, pólos multimédia, postos de acesso à internet, Ludoteca no Jardim Público, e por aí a fora.
Ora, nada disto foi feito! A principal aposta da CDU, a sua única, apesar de precária e pouco sustentada, estratégia para a cidade e concelho ficou na letra do programa eleitoral. E algumas daquelas ideias nem requeriam volumosas verbas, apenas suponham competência política e técnica, atributos que não podemos reivindicar à equipa de governantes locais da CDU. Do urbanismo e requalificação urbana à cultura, da educação à juventude, da modernização tecnológica ao desenvolvimento económico, o que se assistiu nestes quatro anos foi a uma incompetência danosa dos eleitos da CDU. Danosa porque frustrou legítimas expectativas de muitos munícipes, porque hipotecou o futuro da nossa cidade, porque administrou mal as prioridades e gastou ainda pior os dinheiros públicos, porque recrutou técnicos e “homens de confiança política” desastrosamente incompetentes, porque não soube coordenar politicamente os bons técnicos de que a CMB dispõe, porque cedeu a tentações eleitoralistas e despesistas em final de mandato.
À excepção da área dos serviços municipais, da solidariedade social, e de alguns investimentos e obras nas freguesias rurais, o executivo da CMB abandonou-se a um letárgico desnorte, sem engenho político para dinamizar o campo de intervenção dos pelouros com projectos inovadores e necessários ou com a execução e desenvolvimento dos que definiu eleitoralmente, pelo menos os mais relevantes, como a construção de uma nova piscina descoberta, ou a recuperação total do Estádio Dr. Flávio dos Santos, a criação de um novo Pavilhão Polidesportivo ou do eixo de ligação de Beja ao rio Guadiana.
E em sectores como a cultura e juventude, a actuação do executivo foi calamitosa. A Carta Cultural do Concelho, a grande estratégia do Município para a cultura, e instrumento de coordenação de toda a actividade cultural do concelho através da criação do Conselho Municipal de Cultura, foram fantasmas de gestação “kafkiana”, talhados a picareta já no final do mandato e de total inutilidade. O Pax Julia continuou entregue a um director que é mero programador burocrático ou, com mais propriedade, um calendarizador de eventos e espectáculos. A Casa da Cultura definha, sem um plano de revitalização. Os museus e outros equipamentos culturais não ganham visibilidade (como a Galeria dos Escudeiros) e outros (como a Biblioteca Municipal) perderam constância ou regularidade nas actividades que promoviam. A juventude foi ostensivamente esquecida por este executivo durante quatro longos anos. O Além Rock e a Beja Alternativa foram extintos e compensados com a promessa de um grande festival da juventude, que veio nas vésperas das eleições, claro, e só foi grande no esbanjamento de recursos e na comicidade, pois resultou numa cópia medíocre e provinciana do modelo comercial dos principais festivais de Verão.
Agora que chegamos ao fim deste triste e frustrante mandato, seria um acto de elementar dignidade política e moral, exigível a uma equipa que incumpriu tantas promessas eleitorais, dar a cara publicamente, convocar os cidadãos e a comunicação social, e justificar pormenorizadamente tantos falhanços e desistências. Prestar contas aos eleitores seria uma despedida com alguma elegância e decência.
Porque em Outubro já não nos vão fazer perder mais quatro anos. Já chega. Estamos fartos. Beja merece melhor.
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