O aeroporto e as autárquicas

João Espinho

Jorge Pulido Valente, candidato do PS à Câmara Municipal de Beja, recuperou para o seu programa eleitoral as ideias de “Beja, cidade aeronáutica” e do cluster aeronáutico bejense. E digo “recuperou” porque, já em 2002, João Paulo Ramôa (PSD) escreveu sobre o assunto e as referidas ideias constavam do programa eleitoral do PSD nas autárquicas de 2005. Considero como muito positivo que se retomem as boas ideias, independentemente de elas virem de quadrantes políticos opositores. Nesta matéria, PS e PSD, a nível local, dão a entender que não têm grandes divergências.
O aeroporto de Beja tem servido, infelizmente, como arma de arremesso entre partidos políticos, esquecendo-se os seus intervenientes que o interesse regional deverá sobrepor-se aos interesses partidários e particulares. Uma vez é porque as obras não estão prontas no tempo anunciado, outra porque a pista tem ou não tem certificação, depois vem a história da privatização da ANA e, obviamente, a discussão volta a centrar-se em pormenores acessórios. Muitos discutem o assunto, de forma ligeira, desconhecendo a complexidade que envolve erguer uma infra-estrutura aeronáutica, julgando que basta ter uma pista e meia dúzia de edifícios para que se pense que “temos aeroporto”. Há, até, quem advogue a extinção da Base Aérea, entregando todo o complexo militar à utilização civil. Felizmente que este disparate não tem seguidores junto dos principais agentes políticos e dos líderes regionais.
Tenho assistido, por isso, à desvalorização daquilo que é essencial.
E o essencial é: o que fazer com o aeroporto de Beja?
Para além das negociações que deverão estar a decorrer entre a Empresa de Desenvolvimento do Aeroporto de Beja (EDAB) e as diversas companhias de aviação, seguramente que algumas empresas poderão ver em Beja uma oportunidade de investimento.
Faço aqui um parêntesis sobre o aeroporto de Beja para relembrar que, em Évora, as negociações para a instalação da construtora brasileira Embraer naquela cidade, demoraram cerca de dois anos, sempre com a máxima descrição e sem que houvesse “fugas” por parte de qualquer dos seus intervenientes. Recordo também que é ali, em Évora, num melhorado Aeródromo Municipal, que está a maior escola de pilotos da aeronáutica civil nacional, com cerca de duas centenas de alunos e com pilotos já a operar em todas as companhias do mundo.
O que falta então em Beja para que se constitua aqui um cluster aeronáutico de excelência?
A resposta é simples: Beja não tem um Plano Estratégico de Desenvolvimento.
Por muito que a autarquia bejense nos tente iludir com festivais e obras de saneamento básico, a cidade, que deveria ser o motor de desenvolvimento desta região, não dispõe de uma estratégia de desenvolvimento, deixando-nos cada vez mais na penumbra e sem capacidade de atrair novos investidores, novas empresas, novos empreendedores.
Também os governos, durante anos, esqueceram que, sem acessibilidades, nenhuma região se pode desenvolver. Estando em marcha a construção dos acessos rodoviários, deverão os responsáveis igualmente não ignorar as ligações ferroviárias entre as cidades, olhando para Espanha (Extremadura/ Huelva) como potencial fonte de turistas.
A AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal deverá igualmente apoiar a criação de um Parque Industrial Aeronáutico adstrito ao aeroporto de Beja, promovendo-o e apoiando as empresas que aqui se queiram instalar.
O ensino politécnico tem, também aqui, que dar provas do seu dinamismo e de ser mais um dos pólos de desenvolvimento da região. O leque de cursos é vasto e o Instituto Politécnico de Beja não pode ignorar a indústria aeronáutica que poderá vir a instalar-se nesta província.
Mas, para que tudo isto se torne uma realidade, é necessária vontade política em alterar o rumo desta região. São necessárias mudanças nos comportamentos dos responsáveis autárquicos, definindo claramente um plano estratégico de desenvolvimento. Mudanças que não têm existido, definições que simplesmente não aparecem.
Por isso, no debate em que se transformará a campanha autárquica do próximo Outono, exige-se que os candidatos, mais do que discutirem acessórios relativos ao aeroporto, assumam claramente uma estratégia de desenvolvimento para a cidade e para a região.
Porque, em 35 anos, o PCP já provou ser incapaz de o fazer.

<p align=’right’><b><i>(crónica igualmente publicada em
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