Sobre os comboios…

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Sérgio Engana

Presidente da Junta de Freguesia de Salvada

No momento em que se fala num investimento em TGV, anuncia-se a eliminação dos comboios Intercidades entre Beja e Lisboa, com claros prejuízos e transtornos para as populações do Baixo Alentejo, em particular para os mais desfavorecidos.

A este propósito, pretendo começar por referir o Jornal “O Bejense”, de 17 de Julho de 1860:
“Um grande lanço de via férrea, trasido das Vendas Novas a Beja, ligará, dentro em poucos annos, esta cidade populosa e rica com a capital do reino.
Novos ramaes do mesmo systema de viação, e muitas estradas ordinárias, virão, mais tarde, prender as terras importantes d’este districto com a sua capital, já enriquecida com aquelle tão valioso melhoramento.
O districto de Beja, possuidor, então, deste grande elemento de prosperidade, verá florescer a sua agricultura, engrandecer o seu commercio, e crescer e propagar-se a sua civilização (…)”

Mais escrevia “O Bejense”, em 31/7/1860:
“Devem começar brevemente os trabalhos do nosso caminho-de-ferro, e porque da escolha da sua directriz, e local das respectivas estações depende – em grande parte – o seu bom ou mau resultado: cumpre a todos nós estar á lerta, e às Câmaras Municipais pertence mais especificamente representar em tempo competente ao Governo, quando, por ventura, se pretenda fazer, sem razões ponderosas, quaisquer alterações na directriz, ou quando os pontos para a colocação das estações sejam menos convenientes (…)”

A nossa região já não tem prosperidade resultante da agricultura e o comércio foi em muito substituído na cidade pelo comércio chinês …
Mas o distrito tem pessoas, e destas, a maioria são pobres. Basta uma consulta em Lisboa para um pobre não conseguir resolver facilmente o problema em termos de transporte, pois o que faria em 2h30 num comboio Intercidades exige-lhe depois muito mais tempo!
Depois, fala-se na abertura do aeroporto de Beja! Então, como explicar que se eliminem outras ligações rápidas com a capital do país? Não é para percebermos! E assim estaremos absolutamente impossibilitados de “propagar” a nossa “civilização”, ou seja, a nossa cultura, o nosso património!
Tal como em 1860, cabe a todos nós estarmos atentos, reclamarmos e exigirmos a manutenção dos Intercidades Beja-Lisboa. E cabe às câmaras do distrito fazer essa exigência em nome dos seus munícipes, cujos interesses dizem defender…

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