Silêncios

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

João Espinho

O Verão, naturalmente ruidoso onde as maresias atraem marés de multidões, foi este ano caracterizado por pesados silêncios.
Logo à partida a líder do PSD avisou que se iria remeter ao silêncio e só ressurgiria em Castelo de Vide, onde jovens social-democratas aprendem as artes da política, consumindo lições de gente graúda e adulta.
O palco ideal para Manuela Ferreira Leite: por um lado ensinou os jovens a saber calar e a só falar quando devem. São os princípios da boa educação que, ao que parece, foram bem absorvidos. Por outro, aproveitou uma plateia de jovens e de órgãos de comunicação social para falar ao país. Fez bem, pois os jovens aplaudiram e o povo escutou o esboço das primeiras investidas contra o actual estado da governação.
E disse aquilo que as gentes gostam de ouvir: que o Serviço Nacional de Saúde está a ficar sem <b>médicos </b>e outros profissionais do sector, o que está a tornar os hospitais e centros de saúde em casas que não tratam da saúde a ninguém; falou no ensino e na forma vil como a classe dos <b>professores </b>tem sido tratada; acusou de má a política governamental para a agricultura, levando <b>agricultores e respectivas associações </b>ao estrangulamento; falou no mau estado da justiça que tem levado o desprestígio à <b>classe dos juízes</b>.
Após um longo silêncio, fica-se com a ideia de que só agora é que os motores do PSD poderão começar a aquecer. Mas para aquecer a sério, e disputar palmo a palmo a corrida eleitoral, Manuela Ferreira Leite tem que começar a dizer aos portugueses o que quer para o País, o que a distingue de José Sócrates e, muito principalmente, que reformas propõe para um Portugal melhor. O PSD é um partido reformista; não pode ficar atado aos interesses corporativos, sob pena de os portugueses lhe pedirem para que continue em silêncio.

Por aqui, na nossa cidade de Beja, o silêncio foi o habitual. Uma terra deserta, onde pontuavam aqui e ali algumas iniciativas particulares, tentando dar alguma animação aos serões dos bejenses. A Anibeja 2008 foi o que se esperava. Uma mão cheia de nada e para poucos. Salvaram-nos deste marasmo alguns concelhos ao redor que, sem medo da “capital”, avançaram com iniciativas culturais de muito bom nível, atraindo ainda mais gente às suas ruas, dinamizando a vida daquelas localidades, remetendo Beja para um lugar secundário, que é onde devem estar as urbes transformadas em dormitórios. Foi silêncio a mais, mas não foi novo.

Silencioso também se manteve o castelo de Beja, com obras que deveriam terminar no final de Julho e se prolongam até que, um dia, alguém se esqueça que ali está o ex-libris da cidade. Não se percebe este hábito de as obras contratadas pela Câmara Municipal verem repetidamente protelados os seus prazos de conclusão, sem que haja alguém que venha explicar as verdadeiras razões deste mau hábito. Desculpem, estava a esquecer uma súbita quebra no silêncio. O vereador de serviço, confrontado com mais este atraso, veio a público rematar a questão com um simples “<i>a autarquia não comenta manobras de diversão política por parte do PS</i>”. Comemos e embrulhamos e é nestas quebras de silêncio que nos apetece dizer “<i>porque no te callas?</i>”

Para quebrar o silêncio, e prevendo um futuro ruidoso, os moradores de um bairro da cidade (loteamento do NERBE) insurgem-se contra a construção, e a sua má utilização, de um campo sintético enclausurado entre blocos de apartamentos. Onde deveria estar uma zona de recreio para crianças, o espaço transformou-se em ponto de encontro de gente que ali vai descarregar a fúria de viver numa cidade amordaçada, obrigando quem ali vive a não ter direito ao seu silêncio ou, melhor dizendo, ao sossego de viver numa terra que se diz com qualidade de vida. Desconheço que caminhos levarão os protestos destes munícipes contribuintes. Tenho, porém, a certeza que se isto se passasse numa autarquia não dominada pelo PCP, os protestos já ecoariam por todos os bairros e estariam na primeira página das delegações regionais do “<i>Avante!</i>”.
Assim, o silêncio é a prova de vida dos bejenses.

<b>Nota final: </b>no próximo dia 3 de Outubro, no Instituto Politécnico de Beja, integrado no 5º aniversário do blogue que edito (<i>http://www.pracadarepublicaembeja.net/</i>), promovo um colóquio sobre “A Desertificação do Interior”. É uma forma de combater os silêncios e tentar encontrar caminhos que invertam o rumo da nossa região.

<p align=’right’><b><i>(crónica igualmente publicada em
<a href=´http://www.pracadarepublicaembeja.net´ target=´_blank´ class=´texto´>http://www.pracadarepublicaembeja.net</a> )</i></b></p>

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