Remar contra a maré

Carlos Monteverde

A imprensa da desgraça triunfa a olhos vistos sobre a imprensa responsável. Alguma da imprensa responsável torna-se em imprensa da desgraça, se calhar para sobreviver. Tudo isto a propósito das notícias que nos entram casa dentro todos os dias nos últimos meses.
Talvez Barack Obama consiga inverter o rumo dos EUA e novos ventos económicos e financeiros soltem lufadas de ar fresco para o resto do mundo. W Bush, que perdeu as eleições para Al Gore, conseguiu mesmo assim ser nomeado e fazer ao Mundo o que fez ao seu adversário. Mas Obama ganhou com clareza aos “falcões” americanos e agora é ao seu capital de esperança que o mundo está atento. As falências terão de dar lugar ao investimento. O desemprego ao emprego. O desânimo ao trabalho. A tristeza do passado e do presente à esperança de um futuro melhor, construído por nós.
Em Portugal o panorama terá de ser igual, apesar da mediocridade das oposições e dos corporativismos bacocos que vão mantendo alguma agitação de rua.
Cá, como no resto do mundo, a reanimação económica, uma nova justiça social e uma mais equilibrada distribuição financeira passam, em primeiro lugar, pela substituição de todos os gestores e responsáveis da crise, que a sua ganância e roubalheira sem limites provocaram. E todos eles deveriam ser julgados e obrigados a devolver os proventos ilícitos de que se apoderaram. Como exemplo, apontamos os senhores gestores da Gebalis, que gastaram milhões em viagens e refeições em proveito pessoal, numa imagem de impunidade comum aos gestores em Portugal. Esperemos que sejam julgados e obrigados a devolver o que gastaram à tripa forra. Aliás, o dinheiro não pode ter desaparecido. Está é no bolso de alguns ou depositado nas tais off-shores que até os ditos governos democráticos teimam em tolerar e até alimentar.
A falência das nossas escolas que o sr. Mário Nogueira procura perpetuar produziu nos últimos anos o espectáculo diário que os portugueses vêm nos audiovisuais. É o Congresso do PCP onde a ideologia caduca é substituída pela cassete dos trabalhadores, esquecendo o sr. Jerónimo que em cada 100 portugueses votam nele 7 ou 8. É o Congresso do CDS, onde o “Paulinho das Feiras” “arrumou” os adversários internos e anda agora preocupado com os pobrezinhos e os reformados. Se calhar já vendeu o Jaguar e vai devolver o dinheiro que custaram os milhares de fotocópias que tirou no Ministério da Defesa, antes de sair. Admira-me a mim é que este presunçoso rapaz representa três a quatro portugueses em cada 100 eleitores. E dão-lhe tanto tempo de antena a que propósito?
Quanto à dra Ferreira Leite, cujos desempenhos como ministra das Finanças e da Educação ainda lembramos, ganhou o Congresso do PSD para dar credibilidade ao partido. Começou por reabilitar o “menino-guerreiro” em Lisboa, e parece que vêm aí uns jornalistas desportivos para as câmaras e fala-se no sr. Gonçalo Amaral para Loulé. Em termos de credibilidade estamos conversados. Talvez por isso as sondagens lhe dão a melhor resposta e o próprio partido se queira ver livre dela antes das eleições.
E para além da crise económica e financeira, agrava-se a habitual crise da dignidade e da verdade desportiva no mundo do futebol, que alimenta três jornais diários. Depois do “apito dourado” ou “azulado” que vai ficar impune, começa a ficar claro o “apito encarnado”, se bem que escondido pelo paleio medíocre do sr. Luís Filipe Vieira, que deu o último título ao seu clube através daquele jogo inacreditável com o Estoril, combinado para o Algarve, com resultado mais que previsível, a que todo o país desportivo assistiu com inusitada revolta, mas que a “nação” benfiquista achou normal. Agora talvez para rentabilizar as muitas e incompreensíveis contratações caríssimas de mercenários da bola no início da época, o país viu como o Sp. Braga foi impedido de ganhar um jogo onde, entre outras irregularidades, há aquela entrada bárbara do Luisão sobre um avançado do Sp. Braga, mesmo nas “barbas” do árbitro, que fez vista grossa ao lance que deveria merecer irradiação ao jogador faltoso.
Claro que também validaram um golo irregular do Sporting ao Rio Ave e o habitual Bruno Alves pôs uma cabeça de um adversário a sangrar sem qualquer sanção. Temos como diz o sr. Vítor Pereira uma das melhores arbitragens do mundo. Sobretudo para os grandes clubes. Haja vergonha na cara, decoro e respeito pela verdade desportiva. E na última semana contra o FC Porto, o Sp. Braga voltou a perder contra o árbitro. De facto os clubes mais pequenos neste país ainda podem jogar bem. Não podem é ganhar. Até porque continua a haver um mercado de transferências em Janeiro, imoral, que serve apenas para os clubes grandes comprarem os melhores jogadores dos clubes pequenos. Pelo meio, a malta do costume vai enchendo os bolsos de comissões.
Alguma coisa tem de mudar neste país onde levamos todos os dias na televisão com a Júlia Pinheiro, o dr. João Jardim e o sr. Mário Nogueira.
José Sócrates, que acaba de ver uma autoridade internacional e independente, elogiar o trabalho feito pela ministra da Educação, que tem sabido resistir com dignidade ao barulho da rua e à mediocridade corporativa, deveria, em meu entender, reactivar o plano anti-corrupção do ex-ministro João Cravinho. Seria a melhor resposta às provocações pré-eleitorais tipo Freeport e a melhor maneira de estimular a recuperação económica, assumida por todos, com objectivos transparentes e reais.
Estou convencido que só vamos começar a inverter o rumo das coisas quando em vez de esperarmos ouvir notícias de mais falências e despedimentos na televisão por todo o lado, metermos cada um de nós mãos à obra e começarmos a fazer.
Paralelamente, exigimos seriedade a todos os políticos, o afastamento dos que não foram dignos e o julgamento dos que não foram sérios.

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