Quando há algum tempo escrevi um texto invocando o primeiro e único ano de escola primária que frequentei em Entradas, estava longe de imaginar que um dia viria a reencontrar a mulher que me ensinou as primeiras letras.
Chama-se Juvenália Dias. Foi até ao passado sábado, 3 de Maio, e por mais de cinquenta anos apenas um vulto. Apenas uma figura de negro vestida. Apenas um holograma de ponteiro em riste. Apenas uma voz ecoando no labirinto da memória. Mas, por iniciativa do meu conterrâneo Francisco Pinto, que em boa hora levou a cabo esta tarefa, foi possível transformar este quase espectro numa figura real.
Logo ali, naquele improvável reencontro com os seus ex-pupilos e quando comigo se confrontou, viajei-lhe olhos dentro e revi-me naquele dia 21 de Junho de 1963. Era dia de canícula e de passagem de classe.
Eu, de bata imaculadamente branca, suando em bica, nervoso, inseguro como sempre fui, marrafa apartada a cuspinho, botas cardadas acabadas de estrear e caneta de aparo em punho, dispus-me a fazer o primeiro exame da minha vida.
Molhei o aparo no tinteiro de porcelana que estava encaixado na carteira e resolvi-me a responder com aprumo na folha de passagem de classe, a que chamávamos “prova”, previamente adquirida por três tostões na loja do Hermínio.
Uma cotovelada do meu companheiro de carteira, talvez o Pardal, fez-me derramar sobre a bata o conteúdo do tinteiro. Por milagre apenas apanhou um canto da dita “prova”, que entretanto concluíra.
Choroso e envergonhado, apenas me recordo de uma voz suave e de uma mão que me acariciava o cabelo, procurando acalmar-me.
Era a professora Juvenália. A dona dos olhos onde por instantes mergulhei.

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