Crónica de um Natal antecipado

Quinta-feira, 5 Dezembro, 2019

Napoleão Mira

empresário

Caramba! Já estamos outra vez no Natal!
Faço este ar de surpreso porque, à medida que a idade avança, o contador de anos, meses, dias e horas parece-me ter uma qualquer avaria e o tempo que por ele devia de passar, passa de passar para passar a correr!
Mas é de novo Natal, e eu… sou de novo feliz!
Não sei muito bem explicar esta sensação que me cavalga no peito.
Sei apenas que a criança que aqui dentro subsiste regressa por um par de dias a uma dimensão temporal que todos os anos revisito. A minha infância.
Por esta altura sou um garoto desinquieto que conta por cruzes no calendário os dias que faltam para a noite da consoada.
Nessa noite lá estaremos a degustar as iguarias natalícias. À roda do madeiro no lume haveremos de invocar os que já não estão fisicamente entre nós, mas que, permanecem ali, intocáveis, no lugar que lhes pertence. No pedestal da memória de cada um.
Regressaremos às estórias antigas (a parte por mim mais esperada!) e, pela voz dos mais velhos, ouviremos relatos fantásticos de façanhas quase sempre nocturnas. De ribeiras a transbordar de exageros. De noites de vendaval a zunir pelas frinchas de portas e janelas. De proezas trágico-cómicas que povoam o imaginário aldeão. De figuras fantasmagóricas tão negras quanto a noite. Figuras que nos espreitam e nos esperam à esquina da imaginação.
Deixo-me levar pela toada das narrativas e viajo a um tempo que só a mim me pertence.
Aqui, a este cenário que construo dentro desta débil cabeça, regresso a cada ano que passa e por ele volto depois a esperar uma imensidão de doze folhas do calendário, até que um dia seja eu a sentar-me no pedestal da memória dos que por cá ficarem.
Depois, quando a hora do menino se aproximar, haveremos de trocar presentes.
Apenas um, por cada conviva em sorteio pré-determinado.
Pela minha parte, neste Natal não quero nenhum presente. Reclamo sim, um futuro para os meus!

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