Quando perguntaram a Bill Gates, se ia dar computadores aos seus filhos, este respondeu que sim, mas que… antes dos computadores, os seus filhos iam ter livros.
Os nossos meninos e todos os meninos dos países ricos, têm nos seus quartos computadores com muitos jogos, muitos deles na base da violência. Quanto a livros, só os da escola, pois dos outros nunca ouviram falar, nem lhos oferecem no dia de anos.
Como sabem o sr. Bill Gates é um capitalista americano, que se reformou da Microsoft, e que conjuntamente com outro capitalista americano, Warren Buffet, na altura detentores das duas maiores fortunas mundiais, se dedicam agora a gerir grande parte do seu dinheiro a favor de causas filantrópicas. Claro que estes dois homens antes dos computadores leram os livros que lhes permitem para além do dinheiro, compreender o mundo que os rodeia.
Lembro-me da minha infância em Viana do Castelo, onde todas as sextas-feiras à tarde passava uma carrinha da Gulbenkian onde íamos buscar os livros que não podíamos comprar. Passávamos assim dos desenhos animados da Disney e dos cowboys Kit Karson e Billy the Kid, aos romances de William Scott, à ficção de Júlio Verne, e aos contos de Emílio Zola. Assim se formou uma geração que além de saber escrever português, foi ganhando dimensão cultural e política, que se traduziu nas crises académicas de 61/62 em Lisboa, 69 em Coimbra, e no 25 de Abril.
Agora, em democracia, já não há as carrinhas da Gulbenkian, já não há jovens com livros na mão nem hábitos de leitura. Há as Play Stations e toda uma imbecilidade de jogos, que os miúdos jogam nos computadores dos seus quartos, enquanto os papás vêm o futebol na Sport Tv.
E tudo isto é o reflexo de uma escola que depois do 25 de Abril apostou na facilidade, numa sucessão de reformas pedagógicas que trouxeram regalias corporativas a alguns e a mediocridade de conhecimentos aos alunos. E acima de tudo a ausência de ética, que hoje vemos nos nossos jovens gestores, base da ganância e desonestidade financeira, que ajudou a gerar a crise actual.
A actual ministra da Educação percebeu e deu corpo, com a coragem que todos lhe reconhecemos, à necessidade de mudar a nossa escola. Contra as figuras reaccionárias e retrógradas, corporizadas pelo sr. Mário Nogueira, a quem os professores que ainda se interessam pelos alunos e pela dignidade da sua profissão, começam progressivamente a retirar o seu apoio. E todos percebemos o significado da presença do jovem comunista Bernardino e do Sr. Miguel Portas na última “manif” dalguns professores, em Lisboa. Para eles é um corajoso acto de esquerda. Para todos nós, é um fait divers de catequistas.
E por causa de tudo isto, José Sócrates continua a não ter oposição credível, necessária em qualquer circunstância. A d. Manuela, agora de óculos escuros, mistura o ridículo com uma incompetência confrangedora, que os portugueses ainda recordam aquando ministra das Finanças, em que se limitou a vender erário público, para equilibrar as contas públicas. O sr. Jerónimo de Sousa, repete a cassete de uma grande votação na CDU para as Europeias, ele que é um europeísta convicto. O “Paulinho das feiras”, continua a misturar-se com o seu grupo restrito de seguidores, nos locais onde haja gente, para dar a ideia que tem um partido de massas. As sondagens são aliás reveladoras, ao manterem uma maioria confortável para José Sócrates, em tempos de continuada crise. De facto como político José Sócrates, apesar dos “Freeports” e demais ataques soezes, não tem opositor à altura.
O que não significa que Sócrates e o PS não tenham muito para fazer nas medidas a tomar para ultrapassar as actuais dificuldades. Para além das medidas estruturais já anunciadas, o país não pode partir para uma nova ordem económica e financeira com os mesmos colarinhos brancos que parasitaram a gestão das empresas públicas, com regalias obscenas e auto-atribuição de salários e reformas que são uma afronta aos trabalhadores e ao país. Obama já limitou os salários dos seus gestores nos EUA e impôs regras no dinheiro emprestado à banca. Por cá, vemos a EDP com milhões de lucro e a querer aumentar o preço da electricidade, e a Galp também com milhões de lucros, aumentando o preço da gasolina, quando o preço do petróleo desce. Assim não vale e os portugueses não compreendem nem aceitam ver cada vez mais desemprego e, ao mesmo tempo, mais desaforo na ostentação de riqueza destes intocáveis, responsáveis pela compra de sete Ferraris em Portugal nos meses de Janeiro e Fevereiro deste ano. Há cada vez mais casais com dificuldade num empréstimo para a casa da sua vida, pequenas empresas na mesma situação, enquanto o sr. Joe Berardo e o sr. Manuel Fino obtêm milhões para comprar acções e actividades especulativas, que não criam um só emprego. Compete ao Governo, para que voltemos a confiar nele, para além de falar, tomar as medidas que acabem com estas situações inadmissíveis e imorais.
A evolução da própria crise já nos ensinou que o grande capital não desiste dos seus propósitos de sempre. É ver o comportamento das bolsas e o execrável espectáculo das empresas que acumularam biliões de lucro com o trabalho dos seus trabalhadores e à primeira dificuldade despedem aqueles que criaram a sua riqueza. E nesta Europa do sr. Durão Barroso, em que os pequenos aforradores temem pelos depósitos, aqueles que roubaram durante anos, têm o seu dinheiro seguro nos tais off shores. E porque não acabar com os off shores? Os governos todos da Europa não têm poder para tal? Ou será preciso pedir ao “Paulinho das Feiras” para agitar o tema? (curiosamente, ele que agora fala tanto dos pobrezinhos, nunca falou dos off shores).
Resta dizer ao Governo e às oposições, que em ano de três eleições convém não subestimar a capacidade de escolha dos portugueses. Perante a mediocridade dos opositores que a TV nos mostra diariamente, uma nova maioria absoluta para José Sócrates parece ser a melhor solução para o país. Mas aqui volto ao início desta crónica. José Sócrates apostou e bem nas novas tecnologias. A evolução de cada um de nós e das empresas dependem certamente disso, bem como do ensino do inglês, por exemplo. Mas tal como Bill Gates disse para os seus filhos, antes dos computadores, eu oferecia livros aos portugueses. Nas escolas e nos nossos tempos livres.

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