Abrir as portas

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Miguel Rego

arqueólogo

Nesta minha crónica de formato ocasional, volto a um tema que já aqui aflorei, que entendo como urgente mas infelizmente adormecido, no nosso meio. E volto a ele nesta altura em que se aproximam os dois mais importantes meses para o turismo português, dado o seu peso no Produto Interno Bruto e na economia paralela que esta actividade ainda sustenta. Trata-se, muito simplesmente, da necessidade de algumas das nossas mais importantes infra-estruturas turísticas terem que modificar os seus horários. Os investimentos que em particular as autarquias locais têm feito na construção de museus, na recuperação de igrejas e outros espaços religiosos, na valorização e dignificação de sítios de importância histórica e arqueológica, esbarram num senão que deita por terra todos os esforços económicos e financeiros efectuados, para além de diminuírem as receitas da hotelaria e restauração. Na maioria dos casos, os horários em que se oferecem as portas abertas ao público, não têm sentido algum. Nem para públicos locais, quanto mais a outros que vêm de fora, sem destino, e que alimentam de uma forma sistemática os números dos ditos fluxos turísticos. Não podemos continuar a encerrar museus às 17h30. A fechar portas de castelos às 18 ou 19h00. Ou a ter as entradas desses espaços encerradas aos fins-de-semana. É inconcebível que uma região como esta, que apesar de todas as dificuldades tem procurado valorizar e dignificar o seu património, mantenha uma política de abertura ao público completamente desfasada da realidade. No mínimo, encerrar às 20h00, apesar de que fazia todo o sentido poder oferecer esses serviços até às 21h00. Para além disso, seguramente que não seria de todo ingrato, mediante pré-marcação ou num ou mais dias específicos, abrir à noite. As exposições ganham uma força e um impacto completamente distinto, diversificam-se os horários, adaptamos a nossa oferta a realidades mais próximas do que é o actual espectro dos nossos visitantes. E quem diz os horários diz os dias de encerramento ao público. Não seria possível, durante o período de Verão, perspectivar outros horários que não obrigassem a fechar um ou dois dias para efectuar as limpezas a fundo que um espaço deste dia necessita que se faça semanalmente? É urgente que se modifiquem os hábitos instalados. Para bem da nossa economia e procurando a tão falada revitalização do tecido socioeconómico. Não esquecendo, naturalmente, os direitos que todos nós temos ao descanso e ao lazer. E, naturalmente, os funcionários desses espaços de turismo.

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