Gosto de guardar papéis. Guardo-os em capas, em gavetas, em caixas, mantenho-os por ali como marcas do meu passado. E quando decido arrumar o sótão e a vida, para não me esquecer do que disse, do que escrevi e do que era nesse tempo, do que me parecia ser a vida nesse tempo, pego nuns quantos e leio-os.
Por entre poemas, pedaços de toalhas de papel de restaurantes, artigos de jornal, descobri este texto escrito há mais de uma década e lido aos microfones da Rádio Castrense, integrava eu a rubrica “Crónicas do Sul”:
“Quando a agência de viagens lhe deu o bilhete sentiu-se muito feliz. Finalmente iria realizar o sonho muito antigo de andar de avião.
Abriu a bolsinha de plástico e lá dentro estava o papel mágico e nele estava escrito o seu nome, o nome da companhia de aviação, a origem, o destino, a hora de partida e a hora de chegada.
No dia da viagem acordou cedo, ou melhor dizendo nem dormiu, tamanha era a excitação.
Meteu-se no táxi, a viagem foi curta, pouco mais de vinte minutos. Colocou as malas no carrinho e dirigiu-se ao check-in. Foi engraçado ver que os assistentes de terra do aeroporto eram os ex-alunos da Escola de Línguas, Hotelaria e Turismo criada de propósito para o efeito.
No átrio do aeroporto, obra moderna e espaçosa, podia ver-se publicidade alusiva à Ovibeja, ao medronho da serra de Santana e ao queijo de Serpa.
Na Duty Free Shop comprou uma garrafa de vinho da Vidigueira, um frasco de mel de São Barnabé e uma garrafa de azeite de Moura, para oferecer aos amigos alemães.
Entrou para o autocarro que o iria levar ao avião da TAP. Na parte de fora do autocarro viam-se grandes fotografias de cruzeiros no rio Guadiana, das praias e das pousadas alentejanas.
Sobre todas as fotografias lia-se, em português e inglês, ‘A caminho do céu’.
A caminho do céu também já ele ia, quando o avião baptizado de ‘Allentejo’ levantou as rodas de uma das mais compridas e da mais larga pista de aterragem e descolagem do país.
E do seu lugar junto à janela, viu claramente visto, a barragem do Alqueva com os seus canais de irrigação entrando pelo Alentejo em todas as direcções até se perderem de vista. Viu também a auto-estrada entre Beja e Sines, cheia de carros e autocarros certamente pejados de turistas e camiões transportando mercadorias. Viu a moderna estação de comboios e o novo terminal de autocarros. Viu ainda os terminais de carga do aeroporto cheios de contentores vindos de todo o mundo. Viu aviões de todas as nacionalidades estacionados e em redor deles a azáfama das malas e da reposição de combustível.
E a caminho do céu, sentiu-se orgulhoso das letras grandes que via cá de cima e que diziam ‘Aeroporto de Beja’.
Um pouco depois acordou sobressaltado. Mas não foi nenhum poço de ar, foi apenas o despertador que tocou.”

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