Japonesices

Napoleão Mira

empresário

Japão tem um senão: devia de estar aqui mais à mão.
Mas, mesmo estando a nove fusos horários de diferença, recomendo a todos os que possam uma viagem a este país.
Para além de ser um país lindíssimo, é todo ele um banho de civilização. E, neste capítulo, vou iniciar o meu relato por um local inusitado: as casas de banho japonesas!
Quer sejam públicas ou privadas, não encontrei uma que não fosse o expoente máximo da higiene. Numa palavra: imaculadas!
Não vislumbrei uma que tivesse no chão ou no assento da sanita um pingo de urina, um resto de fezes por limpar, um cheiro desagradável no ar, ou mesmo um papel caído no chão.
Como sei que comportamentos geram comportamentos, sempre que as utilizava tinha o maior cuidado em deixar para o próximo utilizador o espaço como o encontrei.
Para ajudar a compor um ramalhete bem cheiroso (num local onde é fácil não o ser!) deixem que vos fale da moderna tecnologia que invadiu a – por norma – mais pequena divisão das casas onde vivemos.
Em todas, mas quando digo todas é isso mesmo que quero dizer, existe uma tecnologia de ponta (numas mais, noutras menos) à disposição do utilizador, que faz com que a ida à casa de banho pública, passe de suplício a experiência quase sensorial.
Passo a explicar: as tampas das sanitas, não são apenas um pedaço de plástico arredondado por onde passam milhares de “cuses” por ano. No Japão, esta peça de equipamento (de reputadas marcas como Toshiba ou Panasonic), para além de aquecida e com regulador de temperatura, por vezes também se abre ou fecha sem que ninguém lhe toque, causando de imediato no utilizador ocidental um “bruá” de espanto.
Depois, a própria sanita está equipada com uma série de apetrechos que fazem do ato em si a tal experiência de que vos falo.
Por exemplo: depois de evacuar, o utilizador tem à sua disposição um esguicho de água, regulável, em temperatura e potência, que lhe lava o rabiosque exatamente no sítio em que deve ser lavado. As senhoras têm à sua disposição dois destes repuxos que lhes lavam o dito e a dita cuja.
Nesta consola – que pode ser uma extensão do assento da sanita ou então instalada na parede ­–­ existem todos estes comandos que, como vos descrevi, operam maravilhas.
Os japoneses são tão minuciosos que nessa consola têm ainda um botão com acesso a música, caso o utilizador seja do género ruidoso, ou apenas goste de obrar ao som de uma ária de ópera, ou coisa que o valha.
Foi, sentado num desses tronos de evacuação, que dei por mim a pensar nas diferenças civilizacionais entre os nossos povos.
No que diz respeito à utilização de casas de banho, esta gente de olhos rasgados e sorriso franco está na vanguarda da civilização, enquanto nós ainda vivemos na idade das trevas.
Claro que não pretendo ofender ou generalizar, mas toda a gente já frequentou o WC de uma estação ferroviária, de um café, de um bar, de um restaurante ou de uma discoteca e, sem desprimor para os que fazem deste espaço o seu cartão de visita, todos temos uma história triste para contar. Ou não há papel higiénico, ou a sanita está suja ou entupida, ou o cesto dos papéis há muito que necessita de substituição, ou mesmo as liberdades artísticas descritas nas paredes são o expoente máximo do vandalismo e do mau gosto. Isto para não falar das portas partidas ou as que simplesmente não fecham.
Recordo uma célebre quadra que circulou por aí e que fazia parte da nossa educação poética enquanto utilizadores de casas de banho putrefactas. Rezava assim: “Neste cantinho solitário/ onde a vontade se apaga/ todo o cabrão faz força/ todo o valente se caga”. E nós ríamos desta e de outras como os malucos. Assim… sem saber porquê!
Dizia o amigo com quem viajei, ele mesmo em tempos proprietário de um bar e mais tarde de um restaurante, “Até a torneira de segurança do autoclismo me roubaram. Tampas de autoclismos queimadas perdi-lhe a conta e mesmo o papel higiénico era-me roubado. Nem quero imaginar se porventura algum aventureiro instalar um destes sistemas no seu estabelecimento. Provavelmente nem horas dura”.
É baseado no meu conhecimento e em testemunhos destes que digo: comparativamente aos japoneses (pelo menos neste capítulo!) ainda não saímos da era medieval e uma ida ao Japão seria um excelente pulo civilizacional.
Ah! E em praticamente todas elas existe um aerossol de odores frescos, marítimos ou campestres, com que o utilizador remata a sua faena defecal.

O autor utiliza o
novo Acordo Ortográfico

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