Vida de cão

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Miguel Rego

arqueólogo

Tirados do contexto, os acontecimentos podem assumir uma dimensão gigantesca permitindo àquele que escreve romancear ou construir a prosa em função dos seus interesses. Por isso, esta crónica não tem fotografias, nem é vestida de coisa nenhuma. Vamos tentar vestir de imparcialidade este pequeno texto e olhá-la sem qualquer tipo de preconceitos. A primeira situação descreve-se de uma forma muito simples. Próximo de Alcaria Ruiva, um destes domingos, está um jeep de alta cilindrada parado na estrada. Ao lado um automóvel branco, aparentemente com um ocupante. Motorista de um e outro veículo estão a tirar um cão do atrelado. O cão acastanho cor de mel é puxado do interior do atrelado onde estão cães a magotes e deixado junto à estrada. Os ocupantes voltam a tomar os seus lugares nos respectivos automóveis e fazem-se à estrada. O canito, desesperado, segue atrás deles. Este fotograma é muito comum. Imagino eu, pelo menos se se pensar que é natural, mais do que se imagina, encontrarmos animais abandonados, completamente desesperados à procura de uma mão que lhes acalente um destino, depois de algumas caçadas e aberturas de caça. Assim como em períodos de férias, quando o normal cidadão põe o tão estimado animal no olho da rua, pois tem de ir de férias. A ideia de colocar chip’s de identificação, não deve passar só pelas matrículas de automóveis. Obrigatoriamente tem que passar por aqui, para que a cada animal deva corresponder um dono. E esta obrigação não procura apenas salvaguardar o destino dos pobres animais. É também uma forma de prevenção da saúde e segurança pública. Os casos constantes de ataques de animais a pessoas, em que ninguém é responsabilizado, sobrando feridas, algumas para toda a vida, não podem continuar a ocorrer. Ninguém pode ser desculpabilizado de uma forma irresponsável e passiva. É o mínimo que se pode pedir. Cada imagem tem a força que cada um de nós lhe pode dar. E aquele fim de tarde, ali tão perto de Alcaria, foi profundamente desolador.

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