Em jeito de balanço daquilo que se passou em Portugal e no mundo durante o ano de 2008, vou procurar dar uma opinião sobre o que de facto aconteceu e teve repercussão na vida das pessoas. Ou seja, aquilo que mais afectou do ponto de vista financeiro, e não só, as famílias, com particular incidência naquelas que mais débeis são na sociedade actual.
Efectivamente, durante o ano de 2008 o facto mais relevante e que maiores estragos causou, está a causar e vai continuar a afectar fortemente as pessoas, é sem sombra de dúvida a questão da economia mundial, com epicentro nos Estados Unidos da América, cuja “economia de casino” foi durante tantos anos adorada por muitos governantes do mundo inteiro, incluindo muitos políticos portugueses, que achavam que a então florescente economia norte-americana era o paraíso da terra. Mas igualmente durante anos fomos alertados por dirigentes portugueses, nomeadamente o meu camarada Carlos Carvalhas, que enquanto secretário-geral do PCP não se cansou de afirmar que a economia americana assentava numa premissa falsa e que a toda a hora se jogava na bolsa a vida de milhões de pessoas, cujo resultado hoje infelizmente se conhece.
Essa situação levou a inúmeras falências de bancos americanos, que tiveram e têm repercussões nas economias mais débeis e assentes em sistemas igualmente voláteis.
O crédito mal parado, assente na facilidade do crédito para comprar aquilo que se necessitava, mas sobretudo aquilo que não fazia falta nenhuma; a super inflação dos bens de consumo, nomeadamente das habitações ditas normais, mas sobretudo daquelas que eram consideradas luxuosas mansões, levou a que os bancos de crédito fácil criassem as condições para a sua derrocada. Isto a par das negociatas que eram consideradas legais, jogadas na bolsa, com uma forte componente de enganos e mentiras, inflacionou os mercados e encheu os bolsos de muitos gananciosos que enriqueceram “à pala” do sistema.
O ano de 2008 foi ainda pródigo nas situações de hiper-inflação dos combustíveis nos mercados internacionais.
Em meu entender, estava criado o caldo de cultura necessário para que a economia real se retraísse. E por arrastamento, as famílias começassem a sentir na pele estas questões, a começar pelo desemprego para que foram arrastados muitos trabalhadores e a falta de condições económico/financeiras das famílias.
E em Portugal, que reflexo tem tido esta situação? A questão está à vista: só não viu e só não vê quem não quer.
A par desta questão central, que situação ou situações levam a que os portugueses estejam pouco confiantes no futuro? Os trabalhadores, de uma forma geral, têm razão para estar preocupados, porque os malefícios ao longo de 2008 vão ter repercussões quanto ao futuro.
O Código do Trabalho, na nova versão imposta pelo Governo do Partido Socialista, é uma peça cujos malefícios vão perdurar no tempo, a par das políticas gerais deste Governo de José Sócrates. Inviabilidade, insegurança, mobilidade e, sobretudo, a precariedade laboral, a par dos despedimentos facilitados, são factos negativos deste Código do Trabalho.
Os trabalhadores da função pública também não vão ter a vida facilitada. A nova legislação aplicada à função pública é manifestamente uma machadada nos seus direitos, cujas repercussões se hão-de verificar no futuro.
Mobilidade, avaliação, progressão nas carreiras e nova contratualização são aspectos relevantes que conduzirão, mais cedo do que tarde, a despedimentos e a constrangimento na vida dos funcionários públicos e, consequentemente, na qualidade dos serviços prestados aos cidadãos.
Mas podemos falar, igualmente, nas questões da Segurança Social, na perda de benefícios que vão sendo apanágio deste Governo, nomeadamente no que respeita aos cidadãos portadores de deficiência, a quem são aplicadas taxas de que anteriormente estavam isentos, mas também no corte dos subsídios de desemprego.
Poderíamos igualmente falar do sector da economia, onde as empresas sentem a dificuldade do dia-a-dia e onde a falência espreita à esquina. Os apoios direccionados para a sua recuperação destinam-se sobretudo às grandes empresas e não às do sector das pequenas e médias empresas, que, como se sabe, são um núcleo importante, senão mesmo determinante, na economia real.
O pequeno comércio está hoje fortemente afectado pela concorrência desenfreada dos grandes super e hipermercados, dos centros comerciais de grande dimensão, que são propriedade de grandes empresas e que visam somente o lucro sem se importarem com os trabalhadores ou com a economia local.
Sim, o balanço de 2008 é negativo, mas “como a esperança é a última que morre”, esperemos que 2009 possa ser um pouco melhor, embora as perspectivas não sejam as mais favoráveis.
Uma certeza porém existe: teremos que lutar para poder conquistar melhores dias e isso está, naturalmente, nas nossas mãos.
O ano de 2009 vai ter três actos eleitorais, ou seja, para o parlamento europeu (Europeias), para o parlamento nacional (Legislativas) e para as autarquias locais. Em qualquer delas o voto de cada um é decisivo. Lembrar 2008 e os seus malefícios é importante para saber o que fazer em 2009.
Que 2009 seja melhor que 2008, são os meus sinceros votos.

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