Princípios, ética e valores

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Hugo Lança Silva

professor do ensino superior

<b>1. </b>Pela primeira vez no espaço de um ano, repito este título numa crónica! Faço-o por estar profundamente convencido da importância do tema, da extrema necessidade de colocar a questão da ética no centro do debate político e social! O pretexto são as listas do PSD para as legislativas!
Posso admitir que Marques Mendes tenha sido um mau presidente do PSD; mas entendo que dificilmente poderia ter feito melhor! Presidente de um partido sem ideologia, que oscila entre uma tal de social-democracia e tímidas aproximações liberais, o PSD tem como principal carga ideológica um espírito reformista, alguma coragem em tomar posições menos populistas, Marques Mendes, na época pai de um partido órfão, viu-se confrontado com a situação inelutável de ter de enfrentar um José Sócrates, que nos dois primeiros anos foi um excelente primeiro ministro, com coragem para assumir posições difíceis mas absolutamente necessárias, na educação, administração pública, segurança social, saúde e deficit público, deixando Marques Mendes um homem só, sem espaço para intervenção!
Admito, por isso, que Marques Mendes tenha sido guiado mais pela necessidade do que por motivação, mas ofereceu ao panorama político nacional a noção de ética na política, quando teve a enorme coragem de abdicar de três câmaras municipais, quando se recusou apoiar candidatos pronunciados por crimes no exercício das suas funções. Uma posição que merece um afectuoso aplauso, ainda que os eleitores desses municípios tenham votado num sentido inverso!
Nunca entendi os resultados das últimas autárquicas em alguns concelhos como uma derrota para quem defende a ética na política: só é derrotado quem não tem convicções, e o que defendeu e colocou em prática Marques Mendes foi um primeiro passo, mas crucial, para aumentar a qualidade da nossa democracia! Após o desvario populista, quando o PSD escolhe Ferreira Leite e a sua política de verdade, convenci-me que o primado de Marques Mendes tinha feito escola, pelo que foi com uma terrível decepção que vi as listas do PSD – nesse dia, Ferreira Leite perdeu o meu voto, que sempre achei que estava garantido!
Mesmo quem defende menos Estado – e eu não mudei de opinião – reconhece que os partidos são cruciais na democracia e que para melhorar a qualidade da nossa democracia – que tanto precisa – é necessário melhorar o funcionamento dos partidos. Bem como alterar o quadro legal actual, consagrando os círculos uninominais, ou seja, a responsabilização directa do eleito pelos eleitores, a possibilidade de votar em pessoas e não apenas em Partidos.
Quando se aproximam duas eleições de crucial importância para o futuro da região e do país, importa meditar sobre as estranhas razões que não justificam que em trinta e cinco anos de democracia, tenha baixado tanto a qualidade média dos nossos eleitos, tenha crescido tanto o desinteresse dos cidadãos face ao poder político, bem visível na crescente taxa de abstenção e votos em branco! Como deveria ser motivo para uma profunda reflexão, as razões que justificam que cada vez mais as pessoas se afastem da política e se recusem ocupar cargos públicos!

<b>2. </b>Os partidos vão gastar 91 milhões de euros nas campanhas eleitorais deste ano: em tempo de crise mundial, quando cresce o desemprego e a miséria, entendem os partidos que este é o momento para a mais cara campanha eleitoral de sempre! Sendo que ao valor supra referido, devemos juntar os milhares e milhares de euros gastos pelas autarquias, em festas, festinhas, cartazes, bilhetes para a tourada e todos os outros desvarios que se fizeram neste verão, da responsabilidade de TODOS os partidos!
Como cidadão que paga impostos, sinto nojo do comportamento dos partidos, que demonstrando um total desprezo pelos portugueses, gastam milhares em propaganda estúpida, sem razão nem sentido, uma insustentável poluição visual nas nossas cidades! E porque generalizar é sempre um erro, convém aqui separar as águas, distinguindo o CDS-PP e o Bloco de Esquerda, que apesar de gastar demasiado, não têm orçamentos obscenos, dos valores indecentes e ordinários que vão gastar nas próximas eleições o PS, PSD e CDU!
Numa altura em que tanto se fala em responsabilidade e ética, os partidos provam aquilo que são!

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