Português entre os emigrantes

Quinta-feira, 11 Junho, 2015

D. António Vitalino Dantas

Bispo de Beja

Celebrámos mais um Dia de Porugal, das Comunidades e de Camões. Noutros tempos designava-se simplesmente Dia de Camões, o grande cantor da língua portuguesa. No contacto com os nossos emigrantes em países com idiomas muito diferentes do português compreendo bem o sentido e a força da expressão de outro nosso grande poeta, Fernando Pessoa: “A língua é a nossa pátria”.
Nos meus contactos com as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo e com os seus agentes pastorais, padres, diáconos, catequistas e outros colaboradores noto a força da nossa língua para fomentar os laços da família e das comunidades. A transmissão dos afetos, da fé e dos valores familiares e cristãos é mais eficiente quando se faz na língua das origens da família. Embora as novas gerações já frequentem ou frequentaram as escolas dos países onde residem e para a conversação entre elas usem o idioma da escola, no entanto os valores e afetos têm uma expressão que não passa só por palavras nem por formulários, mesmo que sejam orações tradicionais. Quando nos zangamos ou exprimimos sentimentos de amizade, não é apenas a expressão do rosto que fala. Também surgem as palavras correspondentes que ouvimos e aprendemos no colo ou no berço. Daí a importância da aprendizagem da língua da nossa família, para crescermos e fortalecermos a nossa identidade. Quem não faz esta experiência pode acabar por viver inseguro, sem pátria.
Sei que o cristão é cidadão do mundo. Em toda a parte é concidadão e não estrangeiro. Mas esta maturidade da vida humana e cristã passa por várias fases, pelo diálogo com a diferença. A diversidade acaba por tornar-se uma riqueza na maturidade da vida. Os emigrantes que têm a possibilidade de crescer e desenvolver-se neste sentido acabam por constituir os cidadãos adultos do futuro e construir a sociedade sem fronteiras, mas não sem pátria.
As missões e associações de língua portuguesa, com os seus movimentos e actividades próprias, como catequese, celebrações, ranchos, escolas de formação e aprendizagem da língua portuguesa e do idioma do país de residência são uma grande riqueza para ajudar neste desenvolvimento de inclusão e maturidade, em que cada um contribui com o melhor de si. Aproveito para agradecer a todos, agentes pastorais, instituições e associações das comunidades de língua portuguesa espalhadas pelo mundo, que ajudam as novas gerações a conhecer as suas raízes e a integrar-se no país de residência. Estão a dilatar a pátria pelo mundo e a ajudar ao aparecimento da nova sociedade, onde todos são concidadãos e não estrangeiros.

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