Visto de terra ou do mar, o país inteiro é um litoral, um rebordo da maciça península, no qual vêm desaguar três dos cinco maiores rios ibéricos. Mais de três quartos da população vive e trabalha numa faixa de 13 quilómetros junto ao mar e por pouco dir-se-ia que o país consiste num pedaço de oceano com algumas ilhas e um pequeno terreno fronteiro na Península Ibérica.
Neste lado do Alentejo, todavia, o litoral parece a excepção à regra. Historicamente contrário ao seu mar, agreste e ermo, ele era até há pouco tempo uma recuada traseira do povoamento do Sul. Foi a água e o veraneio que em poucas décadas trouxeram protagonismo a este litoral, e foi esse protagonismo que lhe suscitou especiais cautelas ambientais. Três factores que colocaram todo este litoral em escalas territoriais novas e muito mais vastas. A água que rega a charneca vem de longe, como de longe veio o dinheiro e a decisão de edificar a enorme estrutura; como de longe vêm conhecimentos, técnicas e pessoas trabalhar, e para longe vai muito do que essa água permite produzir. De longe vêm os veraneantes para as cada vez mais exíguas praias deste litoral, tal como são cada vez menos locais os interesses e recursos a operar aqui. Os valores ambientais e paisagísticos deste território devem, directa e indirectamente, parte do seu reconhecimento e protecção a leis e organizações internacionais.
Neste litoral, entre a população residente, seja histórica ou adventícia; a população utente, seja regular ou episódica, e a população interessada nele, seja qual for o motivo, a coincidência territorial é cada vez menor e as conexões cada vez mais complexas e vastas. As exigências de ordenamento e de legitimidade tornaram-se assim enormes, e com elas as de sustentabilidade.
Por isso, o maior perigo que corremos é ainda o da ignorância e má-fé. Não há valores ambientais e paisagísticos que não possam ser partilhados, explicados, ensinados, e aqui, só o trabalho que as escolas têm realizado se destaca, brilhantemente aliás, no meio das gerais negligências do costume. Quanto à má-fé, alojada na persistente inconsequência das regras públicas e na altiva iniquidade da sua aplicação, tem tido um efeito corrosivo, porque gera um desdém cívico pelas administrações e aguça a arte privada e discreta de defender o interesse próprio exclusivo.
Os planos não são encadernações inúteis de intenções vãs. Eles são a arquitectura das políticas, aberta e explicitada aos cidadãos, o que sendo importante não basta. É preciso que uma cidadania culta e empenhada exista e queira, o que demora tempo a construir mas não pode ser evitado. E é igualmente preciso que as estruturas políticas mereçam essa cidadania e a promovam. Os valores ambientais e paisagísticos acabam sempre a revelar a centralidade de outros valores e, para esses, os planos e os programas começam e acabam nas consciências. Que neste lado do Alentejo, pelo menos a beleza seja uma ajuda e uma inspiração.
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