A pergunta: faz sentido falar em Baixo Alentejo? A resposta: faz! Melhor, sempre fez e por certo continuará a fazer. Há uma certa reacção comunista que acha que não, que tem o Alentejo como um todo, de Nisa a Barrancos, como uma entidade territorial e administrativa indivisível. Não é que esta corrente algo desesperada conceba a grande Região Alentejo em torno de qualquer lógica cultural, social ou económica. Nada disso. O que se passa é que ainda vinga dentro do PCP – embora os adeptos desta posição sejam cada vez menos – um certo saudosismo hegemónico, uma certa comichão pela supremacia num putativo conselho executivo regional eleito pelo conjunto das autarquias. O que estes queriam era uma grande região Alentejo montada em pilares ideológicos ou partidários e não nas ancestrais realizações colectivas humanas.
Um erro terrível, portanto. Porque, de facto, existe uma assinalável distância geográfica, cultural, emocional e até afectiva entre o Alto e o Baixo Alentejo. E isso sempre o compreenderam os sucessivos administradores do território nacional desde que pela primeira vez foi necessário regionalizar o poder. Note-se até como foi unânime, pacífica e natural a aceitação do novo mapa do turismo para o Alentejo. Portalegre e Évora juntas numa única Agência; Beja e o Litoral (o Baixo Alentejo, não há que ter medo do termo) numa outra. E veja-se como a usurpação do norte e a falta de solidariedade com o Sul se mantém intacta e voraz como sempre. A deles ficaria a designar-se Agência Regional de Turismo do Alentejo e a nossa (a imaginação humana quando foge para a perversão é assustadora) Agência Regional de Turismo do Litoral Alentejano e Planície.
Quanto à divisão territorial, estamos todos entendidos. Aliás, esta sempre foi a vontade fundadora da actual Região de Turismo da Planície Dourada, da qual se desmarcaram os municípios alentejanos do distrito de Setúbal, que quiseram integrar a Costa Azul, e o concelho de Odemira, que constituiu a sua própria comissão de turismo. Bom, por fim alguma coerência nisto das regiões turísticas e, porque não, administrativas. O problema está na perfeita ladroagem que nos querem impor ao nível das designações. Isto até tem sido pacífico quando de cá nos têm levado e extorquido serviços, instituições, empregos e outras mais valias. Mas a partir de agora ninguém poderá ficar indiferente ao desaforo, ao insulto e à patifaria de nos quererem subtrair a nossa própria identidade.
O movimento socrático – apoiado nos traidores do costume e no oportunismo cacique que o PS tradicionalmente sabe gerar e na ganância centralista de Évora – tem em marcha uma violenta campanha contra as nossas mais profundas raízes. A aparvatada ideia de querem mudar a designação de Baixo Alentejo para “Planície”, estupores, não constitui um acto isolado. Não há muito tempo esteve por cá a ministra da Cultura a fazer horas para anunciar o apoio ministerial à candidatura do cante às vozes a Património Imaterial da Humanidade e, imagine-se, à constituição em Portel de uma espécie de centro de estudos ou de investigação em torno das polifonias do Alentejo.
E toda a gente bateu palmas à rica ministra. Que mais não fez do que anunciar (cá andam os traidores do costume de mãos dadas com os chicos espertos ) que a “sede” do cante alentejano estava destinada para Portel, que fica no distrito de Évora, logo no “novo Alentejo”, e que é o tal sítio onde apareceu o tal “passarinho” e a tal “cegonha” que mais contribuíram para a destruição e para a corrupção do “nosso” cante. Vem o “nosso” entre aspas para sublinhar que ele é, de facto, nosso. Desculpem lá, mas nem todos podemos ser ”planicianos”. O cante poderá vir a ser património da humanidade, porque, antes de mais, é património inalienável nosso, desta região entre as serras do Mendro e do Caldeirão. Logo, fazer de Portel a capital do cante é tão ridículo como fazer de Beja a capital do fandango ou de Serpa a capital do bailinho.
É por esta e por muitas outras pilhagens que é necessária uma forte corrente de opinião que defenda incondicionalmente o Baixo Alentejo. Nesse sentido, existe já o Movimento BAAL 21 que ainda causa alguma gastura a certos dirigentes do PS, que dizem que a coisa está politizada pelo PCP. Uns e outros têm contribuído a seu tempo para o atraso e para a estagnação da nossa região. É tempo de acabarem com a palhaçada e de se unirem. Ou então de se afastarem e de deixarem os cidadãos comuns tomarem contam das rédeas do nosso destino colectivo. O BAAL 21, contra os gatunos e os espoliadores, apenas faz sentido se for um movimento de todos. Se quiserem posso dizer isto a cantar.

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A Câmara de Castro Verde promove neste sábado, 15, a festa de abertura da edição de 2025 dos Jogos Concelhios, que visa sensibilizar a população