Não crónica!

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Hugo Lança Silva

professor do ensino superior

Quando alguém que normalmente escreve sobre actualidade política, decide realizar um celibato de seis meses, torna-se complicado escrever uma crónica de actualidade! Procurando manter alguma coerência, partilho esta semana com os leitores uma “não crónica” sobre a actualidade local e nacional, uma espécie de crónica deste estranho país que foi plantado à beira-mar e que ninguém se lembra de regar!
Porque me apetecem efemérides, recordo hoje que há cerca de dois anos, nas páginas deste mesmo jornal, escrevi que Francisco Santos e José Sócrates eram politicamente almas gémeas, paixões perdidas no tempo, que se tinham as mesmas qualidades políticas, padeciam dos mesmos defeitos. Na época, fui tremendamente criticado por pessoas próximas do então edil bejense, que me garantiam ser um homem cordato, nada arrogante e sem os tiques de autoritarismo de que tanto é acusado José Sócrates! Escrevo estas linhas hoje, porque me sinto invadir pela curiosidade em saber, o que me diriam hoje, aqueles que tanto me criticaram no passado, depois da forma com Francisco Santos digeriu os resultados eleitorais!
Menos curiosidade tenho por mais um mega-processo judicial, que nas últimas semanas tem feito manchetes, porque desde a sua origem tem cheiro do mais do mesmo: desde há uns anos que os órgãos de polícia se apaixonaram por mega-processos, fingindo ignorar que estes são mais complexos e difíceis de julgar, ao abrigo do mais importante princípio do actual da justiça portuguesa: criar uma montanha para depois parir um rato! Pelo caminho, umas fugas ao segredo de justiça, porque em tempo de crise, urge vender jornais, que sempre dão um empurrão para que as empresas de papel continuem a manter os postos de trabalhos! E com “sorte”, o empresário agora detido ainda ganha outro concurso, para reciclar os papéis de jornal onde vai surgindo a investigação!
Por investigar continua a grande fraude eleitoral do ano de 2009 – não me refiro ao apoio de ilustre comunistas como o sindicalista Carvalho da Silva, o fadista Carlos do Carmo e o publicitário José Saramago a António Costa para derrubar Santana Lopes na corrida a Lisboa: falo obviamente do acordo secreto entre José Sócrates e os barões do PSD, para que Manuela Ferreira Leite fosse a vencedora das directas do Partido Social Democrata, permitindo desta forma que o PS perdesse as eleições legislativas, com mais votos que todos os outros partidos, provavelmente devido a escusos interesses que, com muita probabilidade, são interessantes!
Também por estes dias ficámos a saber quem são os membros do actual Governo, onde fica claro que vamos ter dois anos de arte de não governar bem, dois anos em que se vai fazer absolutamente nada, porque como sabemos, quem fica calado tem poucas probabilidades de dizer asneiras. Por falar em asneiras e tolices, é divertido viver num país onde a dívida externa é um monstro que amesquinha Adamastor, o deficit das contas públicas deixa corada a Cicciolina, mas em que a grande questão da Nação é saber se os homossexuais podem casar uns contra os outros, em virtude de um qualquer direito de quem ninguém sabe qual é! E a avaliação dos professores, porque contrariamente a todos os outros funcionários públicos, foram fazer chinfrineira para a rua e têm num dos seus sindicatos um capataz com aspirações a substituir alguém que está quase excomungado!
Nada escrevo sobre o mais importante tema do país – as goleadas do Benfica – porque estas palavras estão a ser escritas numa gélida noite de segunda e quinta-feira é dia de Everton-Benfica e numa nação bipolar, se depois de Braga o Benfica volta a perder, o adorado Jesus corre o risco de ser pregado a uma cruz, no sentido não bíblico da questão!
Cá pelo burgo, a semana que ora finda foi marcada pela ressaca da tomada de posse dos novos elementos da Câmara de Beja e dos velhos da Assembleia Municipal: a forma como tudo correu, o que se disse e escreveu sobre o tema, exigem que esta não crónica termine sem saudar o antigo e actual presidente da Assembleia Municipal pela forma como pugnou e fez questão de que a cerimónia tivesse a dignidade de sempre, de sublinhar a postura impoluta de quem quis garantir que ninguém o acusasse de retirar importância ao acto por azia eleitoral! E prontos, assim vai a nossa cidade e este nosso país, que primeiro entranha-se e depois estranha-se…

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