Analisar as eleições europeias não pode ser apenas a contagem numérica dos poucos votos finais. Por isso convém fazer a retrospectiva clara da nossa evolução política nos últimos tempos.
Assim, todos se lembram que há poucos meses, a acção política do Governo de José Sócrates não tinha qualquer alternativa credível, pondo de lado a acusatória “habitual política de direita” dos comunistas, que já vem dos tempos de Cunhal e está sempre na prateleira daquele partido.
Acontece que todas as sondagens mantinham o PS distanciado das oposições e paulatinamente todos os partidos tocaram a rebate. Começaram primeiro com as calúnias pessoais a Sócrates, já que ao nível da credibilidade política nenhum opositor partidário se conseguia aproximar. Depois vieram as manifestações de rua, apoiadas no corporativismo dos professores ou no descontentamento popular que as dificuldades da crise trouxeram. As últimas manifestações de rua, meticulosamente marcadas para as vésperas do acto eleitoral.
A seguir a contestação às grandes obras públicas, que alguns sábios dizem que não e outros sábios dizem que sim. E pelo meio, o encerramento de muitas empresas com o aumento do desemprego, sempre dramático, a afectar inúmeras famílias. Desemprego que afecta os que ficam sem trabalho, mas também aqueles que não conseguem trabalho, como a maioria dos jovens licenciados.
Entretanto, e apesar deste cenário difícil, o Governo fez o que muito provavelmente outros não seriam capazes de fazer. A actualização do salário mínimo, o equilíbrio das contas públicas, a redução do défice, o apoio às pequenas e médias empresas, a moralização da Escola, a Rede Nacional de Cuidados Continuados, a sustentabilidade da Segurança Social, a recuperação das listas de espera na Saúde e todo um sem número de medidas com que o Governo procurou combater a crise.
Mas ao nível dos media, tudo isto é secundário aos Freeport, aos vídeos do sr. Charles Smith, à demissão ou não demissão do dr. Lopes da Mota, aos escândalos do BPN e do BPP, etc.,etc,.
De facto, a essência das coisas, escapa àquela franja volátil de eleitores que decidem eleições, que são as audiências do Big Brother e dão o share à TVI e aos programas da Júlia Pinheiro.
Podemos ter dúvidas sobre as aparições da Cova da Iria, mas sabemos que o sr. Isaltino, o Major Valentim e a d. Fátima ganham eleições com o voto popular.
Depois foi a escolha dos candidatos. O PS escolheu Vital Moreira, um prestigiado intelectual da nossa universidade, a quem, segundo os analistas, faltava o sentido populista e trauliteiro. A dra. Manuela, em detrimento de Marques Mendes, escolheu um deputado de fatos às riscas, o Dr. Rangel, que durante a campanha não conseguiu encher nenhum recinto, mas teve maior percentagem que Vital Moreira e foi promovido a herói. Pior que isso, a dra. Manuela vai mostrando toda a arrogância que fizeram dela uma personagem insuportável e medíocre, quando passou pelos ministérios da Educação e das Finanças.
Claro que também tem de se registar o desempenho menos conseguido de alguns ministros e algu-mas trapalhadas desnecessárias. Mas qual o Governo que as não teve?
E de facto, feito o balanço, seria de todo injusto não atribuir ao PS os próximos quatro anos de governação, quando a oposição nada fez para os merecer em propostas ou ideias que ninguém conhece, e apenas catapultada por umas eleições europeias onde o próprio desempenho não ultrapassou a mediocridade.
E reaprendidas algumas lições que às vezes o exercício do poder faz esquecer, o PS tem agora três meses para mostrar aos eleitores que detém o melhor programa para o país, a ser executado por aqueles que servem a causa pública e não pelos que se servem dela. Onde não cabem por exemplo, os gestores da Galp, que continuam a brincar com os preços da gasolina face aos preços do petróleo, tendo como único objectivo aumentar os fabulosos lucros da empresa e assim aumentar os seus chorudos prémios anuais. Um Governo socialista não pode tolerar gente desta, co-responsáveis da crise e grandes beneficiários da mesma. O exemplo dos ex-gestores do BCP, ainda que privados, não pode ter seguidores, e ainda há muitos entre os gestores das grandes empresas
Mário Soares disse há poucos dias na televisão que ao enveredar na política entregou a Carteira de Advogado. Vamos estando fartos dos outros políticos que afinal estão de passagem para as empresas privadas.
Por isso, e como já disse, é fundamental criar na política os mecanismos da transparência, que tinham evitado ao PS quase toda a turbulência das oposições.
Quando a democracia esteve em perigo, e apesar das barricadas comunistas pelas estradas de todo o país, o PS fez a maior manifestação de sempre em Portugal, na Fonte Luminosa. Claro que hoje não estamos, para já, em tempo de resolver os problemas do país na rua. Desde o princípio até hoje, Portugal foi corajoso na sua fundação em 1143 na Conferência de Zamora. Depois foi grande, enorme, nos Descobrimentos, com o Infante D. Henrique. Nos últimos anos da Monarquia e nos primeiros da República, descemos à rua com Governos de três dias, a anarquia, a morte e a desorganização social que fizeram aparecer Salazar, o obscurantismo de 40 anos, a ditadura e a guerra colonial. Depois a generosidade de Salgueiro Maia e outros fizeram o 25 de Abril, mas também apareceram os Otelos e os Vascos Gonçalves. Motivo porque o 25 de Abril ainda não se cumpriu. Não é certamente a dra. Manuela, com o dr. Santana Lopes a reboque, que o vai fazer. Vai ser esta a escolha entre PS e PSD nas próximas eleições.

Neste ginásio em Aljustrel, cada pequeno passo é uma grande vitória!
Carlos Cabeça era um “poço de vida”. Durante anos a fio geriu um afamado restaurante em Aljustrel, que não parava de servir mariscos e carne