Para quem está vivo nada é definitivo. Às vezes parece que sim, às vezes a acalmia permite olhar para a vida e percebê-la e desfrutá-la sem perguntas, sem dúvidas, sem queixumes. Às vezes as coisas estão no seu lugar, no sítio que nós queremos, tudo se completa e encaixa, tudo é simples e cómodo. De dia vive-se na plenitude e de noite dorme-se descansado. E harmonioso e aveludado o tempo vai passando por nós.
Mas para quem está vivo nada é decisivo. E nada é irrefutável porque nós não controlamos nada, nós não temos capacidade para nos opormos à complexidade da vida, para fazermos frente às milésimas equações que a existência nos coloca. Bem que o queremos, bem que achamos que basta sermos donos de uma verdade e de uma perspectiva, mas não, tudo o que nos rodeia é movido por acasos, por outras verdades, por outras perspectivas, por outras gerações, por outros modos de vida.
E nós que nos julgamos deuses de uma certa forma de criar o mundo, principalmente a família e o futuro, caímos do pedestal sempre que a nossa realidade se parte. E sentimos raiva e dor e desilusão, maldizemos o destino e amaldiçoamos a nossa pouca sorte. E perante a evidência, perante o abismo, caímos de joelhos e, quem acredita deita as mãos aos céus, dizemos que outra vez não. Que já chega, que não merecíamos tanta perda.
E é dentro desse fado fundo que choramos. E choramos muitos sóis e muitas luas até não termos mais nada para chorar. E como para quem está vivo nada é definitivo, nem sequer a desgraça absoluta, aos poucos, tocando em mãos, dando mãos, tocando em braços, dando abraços, vamos ressurgindo, vamo-nos reerguendo.
Sabemos que não temos nada, que partimos novamente do nada, do zero, do vazio das almas, da ausência de horizonte, do desespero de abrir os olhos e não ver nada, sabemos que vai ser duro fazer o caminho todo outro vez, sabemos que a desconfiança e o cansaço surgirão, sabemos que vamos ter de subir novamente uma montanha com pedras às costas. E por isso, por muito que nos possa custar, voltamos ao sempre princípio para resgatar aqueles que amamos. Nenhum há-de ficar para trás.

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A cultura do Mediterrâneo e do mundo lusófono, da música à gastronomia, vai ter “palco” em todo o concelho de Castro Verde a partir deste