interpelações da mudança

Sexta-feira, 6 Fevereiro, 2015

D. António Vitalino Dantas

Bispo de Beja

De 26 a 29 de Janeiro, em Albufeira, o clero das dioceses de Évora, Beja e Algarve realizou as oitavas Jornadas de Actualização, promovidas pelo Instituto Superior de Teologia de Évora, subordinadas ao tema “Que pastores para a Igreja no mundo actual?” Há cinquenta anos o Concílio Vaticano II, convocado pelo bom Papa João XXIII, agora proclamado santo, reflectiu sobre quase todos os aspectos da doutrina e vida da Igreja sob o prisma do seu significado para o mundo, fenómeno que ficou conhecido pela palavra italiana aggiornamento, que podemos traduzir por pôr-se em dia, atualizar-se.
Para uns isso foi um escândalo e para outros um sinal de Primavera, de rejuvenescimento. Como pode Deus e a revelação da sua vontade actualizar-se? Não será antes a humanidade que tem de adaptar-se? Por outro lado, como tornar significante hoje o que foi expresso numa cultura do passado? Afinal, quem tem de adaptar-se?
Estas interrogações mereceriam grandes reflexões. Mas, na brevidade desta nota, focarei apenas um aspecto, referente aos agentes principais que são chamados a viver e testemunhar a revelação de Deus nos tempos actuais. Foi esse o objectivo destas jornadas, sempre a ter em conta em todas as atualizações.
A terra move-se, as gerações e transformações dos ambientes e das culturas sucedem-se, hoje de modo mais veloz, devido ao mundo global em que vivemos e aos meios de que dispomos. Precisamos de alguns pontos de referência para ler e descobrir o sentido de toda esta mudança. Como dizia Santa Teresa, cujo quinto centenário do nascimento estamos a celebrar: “Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa, Deus não muda, a paciência tudo alcança; quem a Deus tem, nada lhe falta: só Deus basta”.
Deus é realmente o ponto de referência, que tem como ponto alto da sua revelação histórica a vida e mensagem de Jesus Cristo. É na sua referência a Jesus Cristo que a Igreja de todos os tempos encontra o sentido da sua natureza e missão. As testemunhas desse ponto de referência só significam alguma coisa nessa relação com Jesus Cristo e com o mundo do seu tempo, em constante mutação. Por isso precisam de um processo de actualização contínua, para serem significantes. Daí o tema destas jornadas: que pastores para o nosso tempo?
Foi num ambiente de convivência fraterna, entre bispos, presbíteros, diáconos e conferencistas de diversos meios, formação e profissões, em palestras, trabalhos de grupo, oração e convívio, que fomos sendo interpelados sobre as nossas relações primordiais. De salientar o contributo de D. Carlos Patron Wong, secretário da Congregação do Clero. Todos ficamos mais conscientes de que a nossa vida e acção tem de ser sempre numa perspectiva de filiação, fraternidade e paternidade, à semelhança de Jesus, que viveu a sua condição de Filho de Deus, irmão nosso e sempre em relação com o Pai, cuja vontade veio para cumprir.

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