Muitas das nossas aldeias animam-se nas quentes noites de Verão com o regresso dos emigrantes às suas terras de origem. As festas da terra não têm o mesmo sabor sem a presença daqueles que há muitos anos rumaram às Franças, às Suiças, aos Luxemburgos e às “alemanhas” deste mundo. Alguns já regressaram definitivamente a Portugal. Mas por lá ficaram, em muitos casos, filhos e netos que cumprem em Agosto o mesmo ritual que os seus pais seguiram ao longo de décadas: a vinda de um mês ao seu país e à sua terra.
O emigrante traz Portugal no coração como poucos residentes. Enaltece o país e sente uma profunda e saudável devoção por Portugal. Ser emigrante, mais do que uma simples forma de ter uma vida melhor do que aquela que se teria por cá, é também um estado de alma. Um estado de espírito. E se os emigrantes transportam diariamente Portugal no coração com tanto orgulho, também eu tenho orgulho dos emigrantes portugueses espalhados pelo mundo, com particular destaque para aqueles que rumaram à Europa e que anualmente voltam ao seu país. Às origens.
“O PSD acha que o aumento de impostos que já está previsto por este governo, demissionário (de José Sócrates), e no documento que assinámos com a troika já é mais do que suficiente. Não é preciso fazer mais aumentos de impostos.” – Quem disse isto? Eu ajudo: Pedro Passos Coelho, em Maio de 2011.
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Esta realidade da grande vaga de emigração portuguesa para a Europa, ocorrida sobretudo na década de 60 do século passado, tão mal estudada, encontra-se brilhantemente retratada na obra de José Luís Peixoto, Livro. As “estórias” do Ilídio, da Adelaide, de Josué e de Cosme, entre outros, são um espelho da dureza de vida das pessoas há meio século no Portugal rural interior e de uma juventude que via na emigração uma válvula de escape única para fugir a um destino que não se sabia o que seria, para além da participação, quase certa, na guerra colonial. Este romance é também uma obra de afectos, de sentimentos e de amor. Entre pessoas; entre locais; entre países. Da humildade de uma pequena aldeia do interior de Portugal ao charme das lojas dos Campos Elísios de Paris vai apenas um pequeno pulo. Pelo meio ficam as turbulentas fugas de Portugal, a penosa travessia da Espanha franquista e a dureza extrema das condições de vida dos princípios da vida francesa. O romance desenvolve-se e as personagens envelhecem ao longo das mais de 250 páginas. Nasce uma nova geração de emigrantes já em França. Como encaram o país? Como mudou a aldeia dos seus pais em meio século? Como se alteraram as suas condições de vida desta geração em França, face à vida dos seus progenitores? Peixoto transmite de forma espantosa, considero, as mudanças profundas, do Portugal profundo nas últimas décadas.
“Muitos dos peritos que desfilam nos nosso ecrãs não têm pudor de modificar radicalmente as suas posições consoante o primeiro-ministro em exercício, ontem criticando José Sócrates e ilibando as agências de rating, hoje criticando as agências e ilibando Passos Coelho.” – José Neves, in jornal “I”, de 21.07.2011
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A obra de Peixoto, que é uma excelente leitura de Verão para quem ainda não teve oportunidade de ler, espelha também que a emigração não se deu da mesma forma para todos os países. Um conjunto de situações que Peixoto descreve, em que as personagens são parte activa, e que ocorrem quer em Portugal quer em França, caracterizam tipicamente a emigração portuguesa que rumou a França. Dificilmente encontraríamos na comunidade portuguesa que rumou à Alemanha, por exemplo, alguns dos comportamentos, atitudes ou costumes descritos. Ou seja, dentro da própria Europa não temos um padrão único da emigração portuguesa. O motivo da saída foi genericamente o mesmo. Mas a partir daí abrem-se um conjunto de ramificações que diferenciam de forma substancial entre si as várias comunidades portuguesas espalhas pelo velho continente. Um factor as une porém: o amor incondicional a Portugal! Citando Peixoto: “Dizemos tantas vezes mal do nosso país, que, por vezes, esquecemos o sprint de Portugal nos últimos 40/50 anos. – Há uma diferença abissal nas condições de vida dos portugueses”. E os emigrantes têm esta percepção melhor do que qualquer um de nós.
“Não compreendo por que se limita o imposto extraordinário, que o governo se prepara para cobrar aos sujeitos passivos singulares com base nos rendimentos englobáveis em sede de IRS, a este imposto e mesmo aqui com igual percentagem para todos e não de forma progressiva em função dos rendimentos de cada agregado. E as empresas que apresentaram lucros, nalguns casos enormes em sede de IRC, ficam fora deste esforço? Tributam-se só os trabalhadores e proprietários, no caso das rendas, e excluem-se as empresas/ grupos económicos, nomeadamente as maiores e mais lucrativas? Estranho conceito de distribuição de sacrifícios” – Paulo Arsénio, in “Correio Alentejo”, 29.07.2011
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Esta crónica é uma saudação a todos os Ilídios e todas as Adelaides, e seus descendentes, que, ano após ano, geralmente no mês de Agosto, insistem em regressar às suas terras de origem. À aldeia que nunca deixou de ser a sua e que não é a mesma sem a sua presença anual.
Sejam muito bem-vindos!