O “Correio da Manhã” e o “24 Horas” sempre se distinguiram pelos crimes de faca e alguidar publicados nas suas páginas. Pequenos crimes que escondiam grandes dramas, mas longe dos holofotes sociais que alumiavam outros estratos, até aqui imunes a esta <i>vendetta</i>.
Mas o Gueto de Varsóvia não morreu na transferência dos judeus para Dachau e Auschvitz.
Criou raízes e multiplicou-se pelo mundo. O aparente triunfo da economia capitalista sobre a economia dita socialista, não soube controlar as crescentes desigualdades na distribuição da riqueza, e a par de fortunas obscenas normalmente fraudulentas cresciam os focos de pobreza “controlados” em bairros sociais. Por cada casa com piscina e campo de ténis, nasciam vários guetos de pobreza e revolta, onde a criminalidade germina como a erva em terrenos húmidos.
A imigração clandestina veio aumentar os rastilhos dos muitos paióis que vemos rebentar.
E de repente são os nossos carros que são roubados por <i>carjacking</i>, o nosso dinheiro que desaparece dos bancos de “várias maneiras”, os postos de combustíveis, o roubo por esticão e as inovações de roubo e fraude que vão aparecer. Já tudo é normal.
“E o mais escandaloso dos escândalos é que nos habituámos a eles”, como disse Simone de Beauvoir.
Pelo seu lado, aquele ministro sem jeito nenhum que aterrou na Administração Interna mete a cabeça na areia e diz que a criminologia não aumentou. Esquece que já não são só os leitores do “Correio da Manhã” e do “24 Horas” a ler os crimes nas primeiras páginas. E que o combate ao crime e a segurança das pessoas, não são valores da esquerda ou da direita. São uma preocupação obrigatória do Estado de Direito no curto prazo, ficando todas as outras conjecturas, como desafio às futuras classes políticas, para que saibam fazer melhor do que foi feito até aqui.
Ao mesmo tempo a China, medalha de ouro incontestada nas condenações à morte entre todos os países do mundo, lá conseguiu fazer as suas Olimpíadas, que já não têm nada a ver com o espírito de Pierre de Coubertin. Estava tudo previsto. A melhor cerimónia inaugural de sempre, o maior número de medalhas conquistadas, as lojas dos 300 a proliferarem, os chineses a rirem-se muito e os tibetanos nem tanto. Depois, os Jogos acabaram e a fantástica delegação lusa regressou a Portugal a preparar os subsídios para os próximos Jogos, mesmo que se desista com uma constipação uns dias antes. E lá tivemos de tudo, ao nível do país que somos. Desde o dirigente que substituiu o treinador para ir dar uma voltinha a Pequim ao governante que foi até tão longe, por duas vezes, para “apoiar” <i>in loco</i>, os nossos atletas olímpicos e paraolímpicos, e se calhar acordar aquele que gostava de estar na caminha de manhã, até aos atletas, que todos juntos, formaram a maior embaixada lusa de sempre. E seria tudo apenas triste se não fosse a frase do campeão Nélson Évora, proferida logo após a conquista da sua medalha de ouro. Disse ele que “gostava que a sua medalha aproximasse as pessoas”. E na volta de honra ao Estádio da Luz, lá foi ele cumprimentar os adeptos do FC Porto, que também o vitoriaram, acima do clubismo bacoco que outros tentaram aproveitar. Temos campeão, na senda de Carlos Lopes e Rosa Mota, neste atleta de eleição que soube, através de uma frase simples, mostrar que o desporto, para além dos dirigentes desportivos, ainda tem coisas boas.
E enquanto na China o barulho dos Jogos Olímpicos, não deixava ouvir o silêncio do Tibete, ali para os lados da ex-URSS, um cavalheiro que é presidente da Geórgia resolveu, qual “Cavaleiro da Távola Redonda”, ir dar uns tirinhos para a Ossétia do Sul e para a Abkásia, bem ali ao lado da Rússia. Que naturalmente meteu uns tanques ao caminho e ocupou o país do pistoleiro. Lá morreram mais uns milhares de pessoas, umas mulheres violadas, milhares de refugiados, e mais dois países independentes para os próximos Jogos Olímpicos. E os americanos e europeus, que há alguns meses reconheceram a independência do Kosovo (mais um para os Jogos Olímpicos), não queriam agora a independência dos outros dois. Razão tinha o Charlie Chaplin, quando parodiou o mundo brincando com um globo gigante.
De um lado os chineses a ganhar medalhas nos Jogos Olímpicos, do outro mais uma guerrazita para agitar as bolsas. Talvez o sr. Hugo Chavez tenha razão, com aquele seu ar sereno e educado, a convidar os americanos para um lanche amigável.
Pelo menos aqui em Portugal, para além dos boatos sobre a onda de crimes, e da quantidade de futebolistas de primeira água que os nossos endividados clubes conseguiram comprar com esforço (alguns até ia um aviãozito buscá-los, se é que vinham…), temos o esforço da GALP, para a recuperação sustentada da nossa economia. Ou seja, sobe o petróleo e a Galp sobe os preços dos combustíveis segundo as regras do mercado. Desce o petróleo e a Galp aguarda que estabilize o mercado…E não há ninguém que meta esta gente na ordem?
Claro que aquele senhor que deu três tiros noutro dentro de uma esquadra da polícia, foi restituído à liberdade, com termo de residência fixa, etc. etc.
Ele, como outros, anda em liberdade.
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