Quando estas linhas forem impressas, provavelmente já será oficial que Jorge Pulido Valente é o candidato do Partido Socialista à Câmara Municipal de Beja. E mais do que isso: provavelmente o primeiro candidato socialista com verdadeiras possibilidades de vencer a luta autárquica, terminando com a hegemonia comunista. Numa disputa eleitoral que será titânica!
O PCP parece demonstrar no panorama nacional uma vivacidade que parecia perdida. Numa conjuntura nacional e internacional favorável, aproveitando o vazio de oposição no PSD e a descredibilização de Paulo Portas, cujas boas propostas não passam na comunicação social, fiel ao principio de que a democracia não se esgota no voto, tem usado – e bem – as ruas para conseguir o protagonismo que lhe foge nos votos. Enquanto isso, o Bloco de Esquerda perde-se em futilidades e o PS, ofuscado com o poder pelo poder, abdicou de pensar e arrisca-se a perder a sua esquerda. Mais. O PCP – Beja é um animal político, que arrisca muito do seu prestígio autárquico na Câmara de Beja, pelo que irá arregimentar-se para uma batalha que será hercúlea.
O PCP – Beja sabe ganhar eleições, conhece o seu eleitorado e é um partido de mulheres e homens trabalhadores, que nunca se esquecem de fazer o seu trabalho de casa, bem cientes que existe muito de político e de pessoal em jogo nas próximas autárquicas: e a campanha já começou! Compreendendo que Pulido Valente é um perigo real, sendo difícil escamotear que fez obra em Mértola, importa descredibilizar este trabalho, trazendo à colação o argumento do despesismo, independentemente de ser um facto ou ficção. Por outro lado, importa desgastar a imagem do Partido Socialista a nível nacional para retirar proveitos locais, o que fará com que o PCP venha apoiar directa e indirectamente todas as fumaças de queixume ao Governo: foi assim com os médicos em Albernoa, o lar em Baleizão, os atrasos no IP8 e no aeroporto, as queixas dos professores contra a ministra (ainda que o apoio passe por oferecer o uso do autocarro municipal ou do Pax Julia), as queixas dos alunos – por razões que nem os alunos sabem –, os mineiros de Aljustrel e será assim com qualquer outra manifestação de descontentamento!
Mas é injusto reduzir o trabalho do PCP a uma mera soma de queixumes e desprezar a sapiência do seu trabalho autárquico: é um partido que conhece o seu eleitorado e, desiludam-se aqueles que não reconhecem os méritos do actual mandato!, mesmo numa conjuntura financeira complexa, onde Francisco Santos teve de pagar a festa do Polis, a tolice da Colina do Carmo e enfrentar os acréscimos de gastos na construção das escolas, a Câmara teve a arte e esperteza de governar para o seu eleitorado. Por não ignorar que perdeu o voto jovem e urbano, focou a sua atenção nas freguesias rurais e no voto da terceira idade: para contentar os primeiros, distribuiu eleitoralmente campos desportivos, apoiou as iniciativas locais e é omnipresente nas estruturas associativas locais; no segundo caso, o melhor da autarquia teve como alvo a terceira idade, sendo disso bons exemplos a Universidade Sénior, os novos lares e melhoramentos em alguns que existiam, as feiras conexas com a Rural Beja, o cartaz de ano novo, que depois do Toy oferece o palco a Marco Paulo (espera-se, por valores que fiquem longe da obscenidade dos 45.000 euros de há dois anos!) com o deliberado intuito de servir a sua freguesia eleitoral.
Dito isto, impõe-se a questão de saber como Pulido Valente pode ganhar as próximas eleições! Desde logo, Pulido Valente conhece o PCP por dentro e sabe a forma como funciona a máquina comunista. E provou que sabe ganhar eleições a este partido. A seu favor, joga ainda o difícil momento do PSD que não vai conseguir repetir o excelente resultado de João Paulo Ramôa, arriscando-se mesmo, caso o candidato seja do “grupo da distrital”, a perder o vereador que conquistou. Por outro lado, é um homem capaz de reunir consensos, de manter o voto socialista e conseguir os votos de anti-comunistas e dos desiludidos com mais de trinta anos de políticas vermelhas: o anseio da mudança que se respira por todo o país, joga no caso de Beja a favor do PS. Contrariamente a outros momentos eleitorais, Pulido Valente terá tempo para construir um projecto e uma equipa: a decisão de se candidatar foi tomada a ano e meio das eleições e o “fumo de vitória” irá permitir reunir à sua volta um grande número de personalidades, quer socialistas quer independentes. Claro que, existe sempre o risco de falsos consensos, a necessidade de resistir à tentação de se rodear de todos os descontentes: com tempo, Pulido Valente poderá ouvir propostas e fazer o seu próprio programa, impor ao partido a sua equipa, saber rodear-se das pessoas certas e afastar outras, sendo que, in casu, a apatia das estruturas oficiais no PS na região será mais vantajoso do que prejudicial.
Pulido Valente sabe e pode ganhar eleições autárquicas: mas vai ter de trabalhar tanto ou mais do que o PCP. Compreender que as eleições se ganham nas freguesias rurais e que se perdem no voto da terceira idade. E tem de conquistar o voto jovem, nomeadamente daqueles que nunca votaram, conseguir ganhar os independentes e as associações cívicas, oferecendo propostas sérias, um projecto para a cidade, ambicioso, que parta de uma premissa fundamental: colocar Beja no mapa! Sob pena de a cidade definitivamente se evaporar…
<b>ireflexoes.blogspot.com</b>