Presidente da JS do Baixo Alentejo. “Os jovens anseiam por ser ouvidos”

Eleito presidente da Federação do Baixo Alentejo da JS a 19 de março, em congresso realizado em Odemira, Afonso Domingos revela ao “CA” as metas definidas para os próximos dois anos. E não esconde a ambição de “desconstruir a ideia” que existe sobre as juventudes partidárias.

Qual o maior desafio que tem pela frente enquanto líder da Federação do Baixo Alentejo da JS nos próximos dois anos?

Quando penso nos desafios que me esperam nos próximos dois anos, confesso que é um pouco difícil definir aquele que poderá ser mais difícil de ultrapassar, uma vez que o facto de ser presidente de uma estrutura política jovem nos dias de hoje é, por si só, um desafio imenso. Porém, fazendo uma análise mais cuidada, devo dizer que o desafio que considero que poderá vir a ser mais trabalhoso politicamente será desconstruir a ideia que a sociedade, de uma forma errada, construiu em torno das juventudes partidárias. É altamente preocupante a forma como vemos as camadas mais velhas desincentivarem os jovens de ter uma participação ativa na política, através da estigmatização de que “na política são todos iguais”. Penso verdadeiramente que quando olhamos para um território e não concordamos com o caminho que o mesmo está a seguir politicamente, a solução não deve passar por nos desligarmos da situação, muito pelo contrário! Devemos avançar e dar o nosso contributo para a construção de uma sociedade melhor. Este afastamento só beneficia o crescimento dos populismos. Se há coisa que aprendi nos últimos anos é que devemos sempre questionar aquilo que nos dizem, venha de onde vier. Só conseguimos chegar à verdadeira realidade se formos nós próprios em busca dela.

Que temas serão prioritários neste mandato?

Este mandato foi encurtado devido às circunstâncias da política nacional que todos conhecemos, como foram a realização das eleições legislativas antecipadas. Devemos acrescentar a dificuldade que foi fazer política de proximidade nos últimos dois anos. Quando me candidatei um dos meus principais desejos era efetivamente voltar a retomar esse contacto de proximidade com os militantes, com as estruturas locais e com os jovens no geral. Só através desta retoma à normalidade pré-Covid poderemos fazer um trabalho político mais eficaz. Relativamente aos temas que serão prioritários para o presente mandato, definimos como áreas principais a Educação, a Cultura, a Mobilidade, a Saúde e as Políticas Participativas. Porém, se tivesse que destacar aquelas que verdadeiramente irão orientar a nossa ação política nos próximos dois anos, destacaria primeiramente a defesa do Ambiente, que deve ser uma causa assumida não só pelos jovens, mas por toda a sociedade. Não é possível continuar a ignorar que as alterações climáticas são um dos nossos maiores problemas e cabe, a cada um, garantir que as gerações futuras não enfrentarão as consequências dramáticas dos nossos erros. Apontava ainda a questão da habitação, com o direito a uma habitação digna e a preços acessíveis, que permita que os jovens conquistem a sua independência, saindo de casa dos pais e formando a sua própria família. Uma geração privada de habitação virá sempre congelado o seu futuro. Por fim, mas não menos importante, assumimos com coragem ter como prioridade a questão da Regionalização. É do conhecimento público que o primeiro-ministro António Costa definiu 2024 para o avanço deste processo e por isso queremos estar preparados para fazer a sua discussão. Defenderemos a Regionalização, mas não uma Regionalização qualquer. Defenderemos um Baixo Alentejo que nos dará mais desenvolvimento e certamente levará a região a crescer ainda mais. Lutaremos por um Baixo Alentejo de 18 concelhos! O importante que se perceba é que este processo não está a ser levado a cabo apenas como alguns afirmam “para a criação de lugarinhos”, mas sim para o desenvolvimento de um território, através da criação de estruturas que priorizem e deem resposta às necessidades das pessoas e da região. Quem pode conhecer melhor as necessidades dos baixo-alentejanos, senão os próprios?

A nossa região, na área da juventude, está ainda muito longe daquilo que nós gostaríamos, seja no incentivo à participação dos jovens, seja nas próprias políticas.”

Pretende ter concelhias ativas nos 14 concelhos do distrito. Que estratégia está pensada para esse efeito?

Qualquer presidente de Federação ambiciona ter na sua estrutura todas as concelhias ativas e desse modo é também uma prioridade do nosso mandato a concretizar. A estratégia passará por, num primeiro momento e junto dos jovens que se identificam com os nossos projetos autárquicos, dar a conhecer a JS, as nossas bandeiras e as causas que nos movem. Tenho uma forte convicção de conseguiremos fruto desse trabalho reativar as concelhias e dinamizar a sua ação política em cada concelho. Os jovens anseiam por ser ouvidos e o caminho passa por assumir a liderança destas estruturas e, com o poder político que isso lhes confere, fazerem-se ouvir e lutar pelas suas causas. Não podemos queixar-nos que ninguém ouve os jovens e que ninguém se preocupa com o seu futuro se nós próprios nos demitirmos dessa responsabilidade que é lutar por políticas jovens mais inclusivas.

Qual o maior problema sentido pelos jovens na nossa região?

A nossa região, na área da juventude, está ainda muito longe daquilo que nós gostaríamos, seja no incentivo à participação dos jovens, seja nas próprias políticas. Temos de ser pragmáticos e admitir que esta situação só se sucede porque nos últimos anos temos sido pouco exigentes e daí termos também responsabilidade nesse sentido. Relativamente ao maior problema que os jovens na nossa região enfrentam, na minha opinião, é talvez a falta de oferta de emprego qualificado. O território necessita de ter quadros altamente qualificados que estejam cá e a falta de oferta de emprego põe em causa a permanência desses mesmos quadros e consequentemente o desenvolvimento da região. Associado a isto há ainda a destacar outro problema que é o da falta de experiência. É difícil explicar a um jovem que, após anos e anos a estudar, o mercado de trabalho não o quer receber. Não o quer receber por estar sempre à espera de alguém com mais experiência e com mais capacidade. Relembro que estamos a falar da geração que mais qualificações tem em Portugal.

Defende uma maior participação política e cívica dos jovens. Como?

De nada serve os jovens terem a proatividade e a vontade de participar e fazer, se depois as portas do lado de lá estão sempre fechadas. No meu caso, tive o privilégio de, aos 19 anos, receber um convite para fazer parte da Assembleia Municipal em Mértola. Senti que aquela oportunidade e aquele voto de confiança era algo sobre o qual eu tinha de fazer prova, não só para com quem me convidou mas depois para com quem me elegeu. Acho que é por aí que devemos começar, dando oportunidades aos jovens para de mostrarem aquilo que são capazes. No meu caso correu bem, porque passados quatro anos fui novamente convidado para ser o primeiro-secretário da mesa da Assembleia Municipal.   É necessário envolver os jovens nos processos de decisão através de políticas participativas que lhes deem a possibilidade de fazer parte da construção da sociedade onde vivem. Os jovens precisam hoje de sentir que a sociedade os apoia, precisam de sentir que a sociedade lhes abre as portas para um futuro melhor, na procura de independência e de uma vida estável.

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