Empresários temem crise profunda e duradoura

Empresários temem crise

As nuvens negras no céu apenas servem para tornar o ambiente ainda mais pesado. Outrora cheia de vida e movimento, a pandemia da Covid-19 transformou a Rua Gomes Palma, no centro de Beja, numa via fantasma. Os peões desapareceram, os alunos do Liceu deixaram de cirandar para cima e para baixo e o trânsito resume-se a meia dúzia de veículos, intercalados entre si por vários minutos. De um lado e outro da rua as lojas estão de portas fechadas, sem data prevista para reabrir.
“Estamos fechados há quase três semanas”, conta Francisco Chaves, proprietário da Modas Maryzé, empresa de vestuário pronto-a-vestir que, além da loja na Rua Gomes Palma, tem ainda espaços comerciais em Castro Verde e Aljustrel. Hoje estão todos encerrados e os funcionários prestes a entrar em lay-off. “É a única solução para evitar despedimentos. Porque tudo isto está a ter um impacto medonho e nunca visto nas empresas. Nem os nossos pais ou avós passaram por isto”, conta Francisco Chaves.
Mas o “impacto medonho” não se faz sentir apenas no comércio de moda ou em Beja. Em todos os sectores da economia local e em todos os concelhos do Baixo Alentejo os efeitos do surto de coronavírus são por demais evidentes… pela negativa! Os estabelecimentos estão encerrados, as vendas caíram para níveis mínimos e empresários fazem contas. Muitas contas.
“A situação é muito, muito dramática a nível financeiro”, reconhece Bruno Mestre, que gere o café/pastelaria “La Praça” e a pequena “Mercearia da Praça” no centro de Castro Verde. O primeiro espaço está fechado e o segundo só funciona de manhã. “Mas o que se vende mal dá para pagar as despesas. Se é que dá”, diz.
De concelho para concelho, de ramo para ramo, o quadro é quase sempre o mesmo. “Sentimos uma quebra de 30% nas vendas nos últimos 10 dias. Ao balcão a quebra é de 70%. A nossa sorte é o sector agrícola”, adianta Henrique Revez, da Peçamodôvar, empresa de Almodôvar que trabalha no sector das peças automóveis e equipamentos agrícolas.
Pior está o sector do turismo, garante José da Lança, que tem um restaurante, espaço de eventos e alojamento turístico no Solar da Portela, também em Almodôvar. “Estamos completamente parados”, revela o empresário, que até tinha começado o ano “com um crescimento muito bom e a investir”. Agora teve de recorrer ao regime de lay-off nesta área de negócio.
Também completamente paradas estão as rotativas da Tipografia Vitória, em Aljustrel. “Abril era o mês em que começávamos a trabalhar mais, mas estamos sem trabalho”, conta Manuel Tendeiro, que gere este negócio familiar. Também aqui o lay-off é a solução mais imediata.
Com (quase) todos confinados às quatro paredes de casa o mercado imobiliário sofreu igualmente um enorme abanão nas últimas três semanas. “Sentimos uma quebra de 90% na procura. E mesmo para vender não há contactos”, conta José Carlos Estebaínha, da EasyGest Aljustrel.
O cenário repete-se no stand de automóveis usados que Luís Pinto tem na vila de Ourique. “O negócio parou por completo e estamos sem clientes”, conta este empresário, que já dá 2020 como “um ano perdido”. “E esta é uma crise que bate a todos”, alerta.

Futuro, ai o futuro…
A crise chegou sem aviso e agora é tempo de cerrar fileiras e contrariar os seus efeitos. Mas nenhum dos empresários ouvidos pelo “CA” consegue prever com certeza absoluta como vai ser o futuro. O pessimismo sobrepõe-se à esperança.
“Estou muito apreensivo”, admite Luís Pinto, da Luís Pinto Automóveis. “Mas tudo vai depender de como as pessoas reagirem ao pós-Covid-19. Se ficarem com medo, o impacto vai ser muito grande”.
José Carlos Estebaínha também considera que a retoma vai ser lenta. “Vai demorar uns três a seis meses para recuperarmos a confiança”, diz. “Isto vai demorar muito a arrancar”, acrescenta Manuel Tendeiro.
Em Almodôvar, José da Lança prevê que as empresas “demorem muito tempo a recuperar”. “Eu até não sou muito pessimista, mas isto assusta-me um bocado. Não morremos da doença, vamos morrer da cura”, frisa. Já Henrique Revez prefere pensar num “dia de cada vez”. “Está tudo muito incerto e estamos todos inquietos”, reforça.
“Tenho a ideia que esta situação [da pandemia] não leve tanto tempo a ser superada como imaginamos. Mas depois a recuperação da economia vai ser lenta”, antevê por seu lado Bruno Mestre. “As empresas não estavam preparadas para isto. Os tempos que se aproximam vão ser duros até dizer chega”, conclui Francisco Chaves.

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Correio Alentejo

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