Excelentíssimo Senhor presidente da Câmara Municipal de Beja, permita-me dirigir a V.Exª por este meio. E sem papas na língua, directo ao assunto, pois a urgência que sinto em fazê-lo assim me impele: se há eventos que têm provado e mostrado que o Alentejo não se reduz a um deglutir contínuo de acepipes tradicionais são as Palavras Andarilhas. Deixe-me expressar-lhe a minha profunda mágoa, enquanto cidadão de Beja, ao tomar conhecimento pela comunicação social, sempre pela comunicação social, da nova periodicidade com que o evento se passará a realizar. De anual passará para bianual. Deixe-me dizer-lhe, salvo o erro, foi na quinta ou na sexta edição que também se assumiu tal posição e depois, felizmente, a coisa e ainda bem, não foi avante. A anteceder esta tomada de posição, deveria acontecer um profundo debate, entre o executivo público, as chefias de departamento, a direcção da biblioteca e os incansáveis técnicos, sobre o que são as Palavras Andarilhas, o que consolidaram, o que significam para o país e para cidade, que rumo devem seguir. Tal coisa não acontece, nunca aconteceu e pelo andar da carruagem nunca deverá acontecer. Falo na primeira pessoa e sei do que falo. Apesar de me encontrar em regime de licença sem vencimento, treze anos de biblioteca e oito de Palavras Andarilhas permitem-me tecer convictamente as minhas considerações. Valem pelo que valem, mas têm voz própria. Não posso deixar de aproveitar o espaço que mensalmente me é concedido no “Correio Alentejo”, para denunciar, quanto a mim uma irresponsabilidade sem conta nem medida, que é a de não realizar anualmente um evento com a envergadura e a qualidade das Palavras Andarilhas. É da obrigação de um executivo, qualquer que seja a sua natureza política, precaver a existência e fundamentalmente a insistência em actividades que dignifiquem o bom-nome dos equipamentos e das instituições que gere. A Biblioteca Municipal de Beja – José Saramago é uma instituição da cidade como nome além-fronteiras, quer certa mediocridade que por aqui grassa assim o queira ou não. Numa terra que leva a vida promovendo pão, queijo, vinho e bedum de ovelha há gente que acredita que há mais para dar. Há mais para procurar! Há mais para criar! Há muito por fazer! Ano após ano, as Palavras Andarilhas já provaram que merecem ver consagradas em orçamento próprio, não só a sua continuidade como a sua incessante procura em novas e renovadas reflexões/abordagens ao mundo do livro e da leitura. Quem tiver dúvidas, pesquise na net… E verá que da Argentina ao Brasil, de Espanha a França, dos Palop´s aos Camarões, de Norte a Sul de Portugal, já existe muita gente a saber o que são dez anos de Palavras Andarilhas. Anuais, obviamente!
<i>Jorge Serafim – cidadão de Beja
Funcionário da Biblioteca, actualmente em regime de licença sem vencimento
Militante do Partido Comunista Português… e com as quotas em dia</i>