Sim, já o disse e afirmei que este país e esta gente excederam as minhas expectativas. Que o que sabia do Japão me levavam a concluir ir visitar um país que estaria na dianteira da melhor tecnologia de ponta e que mantinha um certo equilíbrio entre a tradição e a modernidade.
O que estava fora das minhas cogitações era o de encontrar um povo dócil, afável, respeitoso e acima de tudo disponível para o outro.
Ainda ontem, já de noite, depois de um dia inteiro a viajar, “aterrámos” em Kanazawa no meio da cidade, depois de despejados pelo autocarro na estação que nos disseram ser a nossa.
Chovia a bom chover. Derrotado de um dia de muitas centenas de quilómetros, mala na mão, mochila às costas, guarda-chuva aberto na outra, e um mapa onde não conseguíamos descortinar o nosso destino final, o Hotel Pacific.
Abeirei-me de uma jovem que ia apanhar a sua bicicleta para ir para casa e pedi-lhe ajuda. Solicita, educada e sorridente saca do seu smartphone e procura a localização que buscamos.
Quando a encontra, em vez de nos indicar as direções pergunta-me se nos importamos de a seguir. Largou a bicicleta, abriu o guarda-chuva e assim fomos todos… em carreirinho. Pensei que era uma coisa de alguns metros (dezenas ou centenas,talvez!), mas a moça lá nos foi guiando por ruas e mais ruas durante uns bons 10 minutos até chegarmos ao nosso destino.
Se fosse a primeira vez, seria uma exceção, mas esta já é a enésima vez que tal acontece.
Agradecemos à jovem japonesa e eu fiquei a matutar naquela atitude de uma jovem que numa noite fria e chuvosa de dezembro se disponibilizou a ajudar quatro viajantes meio perdidos numa cidade que à luz do dia será muito mais fácil de descodificar.
Já que estamos em maré de reflexão, aqui fica outra variável que me deixou pasmado. Reparei que havia muitos homens e mulheres de avançada idade que prestavam os mais variados serviços. Ajudar peões a atravessar ruas, prestar informações em monumentos, aconselhar turistas em centros a tal dedicados e, imagino em muitas outras vertentes, que não tive ocasião de experienciar.
Depois, perguntei a que se devia tal opção de vida e um solícito ancião fez o favor de satisfazer a minha curiosidade, afirmando que esta era uma forma de envelhecimento activo e também uma maneira de ocuparem o seu tempo procurando ser úteis a si e à sociedade.
E eu dou comigo a pensar que bom que era que no meu país se adoptassem políticas semelhantes e os velhos continuassem a ser orgulhosamente úteis.
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