Um “abanão” no sistema

Carlos Pinto

JORNALISTA | DIRECTOR DO "CA"

Quer se queira, quer não, o sistema político em Portugal sofreu uma enorme “abanão” na noite do passado domingo, 18, com o crescimento e afirmação do Chega como segunda força partidária mais representada na Assembleia da República e a queda vertiginosa do PS, partido que mais tempo liderou o Governo do país na última década e meia.
Ao longo dos últimos dias, têm sido muitos os que tentam justificar este resultado. Desde ter sido um voto de protesto em função dos últimos meses de instabilidade política a um grito de revolta perante os sucessivos “casos e casinhos” que vão envolvendo a classe política em Portugal. Talvez, eventualmente, uma manifestação de indignação causada pelo excesso de imigração ou os “benefícios” de determinadas etnias ou, simplesmente, uma afirmação da vontade de muitos em regressar aos bafientos tempos passados.
Certo é que os resultados de 18 de maio revelam aquilo em que nos estamos a transformar enquanto país, sociedade e comunidade: cada vez mais individualistas e menos solidários, onde prevalece o ressentimento, a maledicência, a inveja e em que os outros são sempre os responsáveis pelos nossos insucessos e incapacidades. Uma sociedade sem memória da história contemporânea e sem empatia pelo próximo, desenraizada, zangada, cínica e hipócrita, “viciada” em redes sociais e que acredita que tudo se resolve facilmente, como quando se está à mesa do café, entre uma mini e um pires de tremoços.
A vitória do Chega no passado domingo (tal como a de muitos outros partidos e políticos da mesma linha pelo mundo fora) é a nossa derrota. Dos democratas. E um alerta para os perigos que ameaçam a nossa democracia, que por ser o melhor dos piores sistemas políticos permite que a destruam utilizando as suas próprias regras.

Facebook
Twitter
LinkedIn
Em Destaque

Últimas Notícias

Role para cima