Quando no início de cada ano desejamos que o novo ano seja melhor do que o anterior, longe estamos de imaginar que uma catástrofe, como a que aconteceu no Haiti, possa ocorrer.
Com efeito, aquilo que aconteceu à população haitiana é dramático demais para ser verdade. É uma tragédia imensa, que se abateu sobre um povo já de si pobre e que agora ficou completamente na miséria.
Quando escrevo, não se conhece ainda, se é que alguma vez se vai conhecer com rigor, quantas pessoas estão debaixo dos escombros. E dessas quantas morreram por asfixia e por falta de ajuda atempada, ou seja, ajuda que ao chegar não conseguiu de imediato começar a trabalhar, tal era o grau de destruição, de colapso das estruturas físicas e de falta de estruturas na sociedade, que não sendo físicas seriam ou deviam ser organizações que pudessem elas mesmas contribuir para o apoio aos mais necessitados.
Mas não, onde havia pobreza, hoje há miséria e fome, hoje tudo é desolação. Pelas imagens que temos visto, falta tudo! Faltam abrigos, faltam medicamentos, faltam alimentos, falta água potável, faltam apoios e meios para detectar e retirar dos escombros muitas pessoas que poderiam estar ainda vivas.
Passam os dias e, pese embora as boas vontades dos países vizinhos, a ajuda tarda em chegar aos mais necessitados. Dizendo melhor, chega a conta-gotas e o desespero apodera-se da maioria da população. Dizem que em Port-au-Prince deveriam residir cerca de três milhões de pessoas, mais ou menos um terço da população de um país pobre, que mais pobre ficou.
Conhecemos este país pelos relatos havidos, quando era governado por um ditador chamado “Papa Doc”, ou mais concretamente François Duvalier, que governou com mão de ferro este pobre país durante algumas décadas. A ele sucedeu o filho, Jean-Claude Duvalier, outro tirano que em nada ajudou o povo e que o arrastou para a miséria onde ainda hoje se encontra. Esta tragédia vem trazer à memória outros povos, outros tempos, em que basta uma catástrofe natural para acentuar ainda mais a já de si frágil sociedade em que vivem.
Foi o caso recente do tsunami na Ásia, mais particularmente na Indonésia, onde pereceram milhares de seres humanos, que viviam em condições precárias.
Os edifícios, as infra-estruturas da cidade de Port-au-Prince, não estavam preparados para uma situação desta natureza e para um tremor de terra desta dimensão. Tudo falhou.
Espero agora, todos esperamos, que a ajuda internacional vá de encontro às reais necessidades deste povo martirizado e que possa rapidamente passar de ajuda de emergência para uma forte ajuda à reconstrução deste país.
“Enterrar os mortos e cuidar dos vivos”, disse Marquês de Pombal quando em 1755 um terramoto “varreu” a cidade de Lisboa. É isso que é necessário acontecer no Haiti.
Portugal também vai ajudar com uma equipa, pequena, mas importante para quem necessita de ajuda. Mesmo assim, já se levantou uma voz para criticar: o presidente de uma denominada Associação de Protecção Civil que acha que a Força Especial de Bombeiros (FEB), mais conhecida por “Canarinhos”, não está vocacionada para o efeito. Mais que criticar, é necessário agir para ajudar, pois nem sempre é fácil fazê-lo.
Desta catástrofe é preciso retirar uma lição: a Protecção Civil é uma área tão importante e tão fundamental que não é com polémicas que atingimos o ponto ideal. É com trabalho, é com esforço, é com dedicação que lá vamos.
Hoje é o povo do Haiti que precisa de nós e devemos, por isso, em nome da solidariedade humana dizer presente!
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