Depois da grandiosa manifestação do sr. Mário Nogueira, que terá reunido mais de cem mil professores e simpatizantes, foi a vez das crianças. Por todo o país e num ápice, via SMS, os jovens alunos das escolas vieram para a rua gritar “ministra para a rua” e mostrar “cartões vermelhos” recortados por alguém. E que diziam eles aos repórteres das televisões? Um dizia que estava ali por “causa das faltas”, e um fedelho ao lado dizia “que tinha vindo com eles”. Todos os portugueses viram escolas fechadas ilegalmente a cadeado entre inúmeras imagens degradantes, que só por si comprovam que de facto muita coisa está mal nas nossas escolas. Nessa manhã, passei frente a uma escola onde os alunos aos magotes deixavam passar o carro de uma professora, que lhes batia palmas e se agitava histericamente dentro do carro a apoiar a barulheira dos alunos, numa atitude pedagógica certamente só ao alcance de alguns dirigentes sindicais. Percebe-se quem mandou os jovens atirar ovos aos carros dos governantes.
A actual crise financeira mundial também tem certamente a ver com estes miúdos mal preparados ética e profissionalmente, que daqui a alguns anos poderão ser os agiotas, que, presentemente, estão à frente dos bancos e grandes empresas, responsáveis pelos subprimes e ilícitos financeiros que geraram a actual crise económica e social.
O problema é essencialmente cultural, nas suas várias vertentes. Que só se resolve com competência, que se adquire com trabalho. Que a maior parte das vezes dá muito trabalho. E aqui reside o problema.
Depois do 25 de Abril, confundiu-se liberdade com facilidade. Nas universidades, os exames foram substituídos por “trabalhos de grupo”. Os vários grupos corporativos aproveitaram a época “gonçalvista” para as chamadas conquistas irreversíveis dos trabalhadores, que apontaram sempre mais para a facilidade do que para a responsabilidade. Ao mesmo tempo, instalavam-se os chamados gestores públicos, com ordenados e regalias obscenas, que não precisavam de acordos sindicais. Eram auto-estabelecidas. E quando não se cria a riqueza suficiente para ser distribuída, a espiral acaba na tragédia social dos nossos dias, afectando naturalmente os mais fracos, já que para os maus gestores continua a não haver, lamentavelmente, qualquer castigo.
E voltamos à avaliação dos professores e, acima de tudo, das escolas. Só há uma certeza que todos temos: que os alunos de hoje sabem menos, o ambiente das escolas se degradou e se chega ao cúmulo de ver na TV uma aluna a faltar ao respeito a uma professora por causa de um telemóvel. Para além da degradante “greve” às faltas da semana passada, que certamente não foi promovida pelos alunos. Não se constrói nenhum país credível na base destes pressupostos. Contou-me pessoa amiga que na última reunião de pais em que esteve presente, a professora terá dito aos pais que não permitia que os alunos levassem telemóveis para as escolas. Caíram-lhe vários pais em cima, que os seus filhinhos tinham de andar com o “telelé” para estarem localizados. Aposto que esta professora não esteve na grandiosa “manif” dos 120.000, mas alguns destes pais estiveram. Porque os problemas e a responsabilidade do nosso sistema educativo residem não só na política global do sector, como também nos professores, nos alunos e nos pais. E a eficácia do ensino só se mede avaliando. Como em todas as profissões. Os médicos sobem de categoria através de exames públicos, em que muitos não são aprovados, e os militares não chegam todos a generais, porque têm concursos para progredir conforme as vagas. Condições que asseguram a boa prestação de cuidados de saúde, e no caso dos militares, permitiu por exemplo, o 25 de Abril.
Era bom que o país fosse informado como eram feitas até aqui muitas avaliações e qual a sua responsabilidade no nível medíocre de tantos alunos das nossas escolas.
A actual ministra da Educação teve a coragem de dizer com determinação: alto e pára o baile.
E as propostas de avaliação para toda a escola, incluindo os professores, são o único processo de separar o trigo do joio. De mudar o que estava mal, para melhor. Através do diálogo que os sindicatos aceitaram e cujo acordo depois denunciaram sem qualquer explicação. Recriando as velhas técnicas do “gonçalvismo”, em que o barulho da rua procura substituir a razão dos que de facto trabalham com seriedade nos locais adequados. E aproveitando o “efeito demolidor” da “manif” logo veio o sr. Nogueira acusar a ministra de proibir as reuniões de professores nas escolas, o que não era verdade. Mas quem só sabe fazer barulho, fá-lo de diversas e lamentáveis maneiras.
E quem assistiu às grandiosas manifestações do “gonçalvismo”, em que o “povo” descia à rua dia sim dia não para defender a distância que vai da utopia à realidade, viu todo esse processo culminar na maior manifestação de sempre realizada em Portugal, quando o Partido Socialista foi defender a liberdade de todos, na Fonte Luminosa.
Não deixa de ser curioso ler alguns cartazes, onde alguns pseudo-professores dizem que não voltam a votar no PS. Já o dr. Cunhal costumava dizer nos períodos eleitorais que recebia muitos telefonemas de militantes socialistas a dizer-lhe que agora iam votar nas argolinhas. Nesse aspecto, o sr. Mário Nogueira parece ser um bom aluno e não deveria ter medo de ser avaliado.
Por isso, apoiar a actual ministra da Educação é um acto de cidadania, é lutar pela competência contra a ignorância, é apoiar todos os professores que procuram manter a dignidade nas escolas, é também a forma de garantir aos portugueses que Portugal já não é um país onde os sindicalistas podem derrotar na rua com barulho, com cartazes ofensivos, ou com ovos atirados aos carros dos governantes, programas de Governo sufragados pela maioria da população. Convém lembrar ao sr. Nogueira que as maiorias se conquistam com o voto livremente expresso e não com o barulho da rua. Apoiar a actual ministra da Educação é, de facto, lutar pela liberdade. Porque com o clima criado em Portugal, fácil é alinhar com os que atiram ovos aos outros. Difícil será negociar com seriedade e boa fé, para que de facto fiquem nas escolas os melhores professores. Dessa negociação, que desejamos que aconteça com regras e seriedade, vai beneficiar a formação académica.
<b>P.S.- </b> Uma palavra de simpatia e solidariedade para com os mineiros de Aljustrel, a vila onde também resido. Depois de tantos anos de estudos e expectativas, as minas reabriram há seis meses.
Foi o renascer da esperança numa vila tantas vezes adiada. Ao fim destes seis meses, pela baixa dos preços do zinco e outras expectativas económicas não atingidas, a administração da mina resolveu interromper a laboração.
Alguma coisa tem de estar mal e pior vai ficar a situação económica de muitas famílias em Aljustrel, dependentes da actividade mineira.
A única solução de curto prazo para manter esta vila viva só pode passar pelas propostas já feitas pelo presidente da Câmara, que aqui quero apoiar.