O ar embasbacado do ministro Teixeira dos Santos, ao ser perguntado se não temia que “os portugueses se revoltassem como os gregos” perante as medidas draconianas do PEC, faz-me evocar a célebre frase do “Almirante Sem Medo”…
Um conhecido pensador do século XIX dizia que a História se repete, primeiro como tragédia e depois como farsa. Para os mais novos, cabe recordar que o primeiro-ministro Pinheiro de Azevedo falava numa manifestação de apoio ao VI Governo Provisório, ao lado de Mário Soares e Sá Carneiro, quando estoiraram umas granadas de fumo. Felizmente, no Terreiro do Paço não chegou a verificar-se nenhuma tragédia – “é só fumaça…” – mas a conferência de imprensa do ministro das Finanças, em Bruxelas, soa a farsa.
A farsa começou quanto, nas eleições de Outubro e até há uma semana, Sócrates e os seus ministros juravam a pés juntos que não haveria aumento de impostos. Pois não! Começam logo pelo IVA, o mais cego e injusto porque incide sobre o consumo e afecta sobretudo os mais pobres. Nem a taxa mínima de 5% escapou, já que Sócrates embirra com a Coca-Cola e, já agora, também com o pão, o leite, as batatas, a massa, o arroz, o feijão…
Tudo isto em nome de Bruxelas e logo no “Ano Europeu de Combate à Pobreza e à Exclusão Social”, com mais de dois milhões de portugueses abaixo do limar de pobreza, quando a fome é uma amarga realidade para muitas famílias, o desemprego já atingiu os dois dígitos e não pára de crescer… Para “ajudar”, o Governo, com o apoio da direita, faz novos cortes no já magro subsídio de desemprego e nem o Rendimento Social de Inserção escapa a este combate contra os pobres!
Para quem ainda tem trabalho, vem aí o roubo dos salários reais e também nominais, com medidas que poderão não ficar por aqui. E se o IRC (que incide sobre o lucro declarado pelas empresas) sobe 2,5%, a banca que declara lucros de muitos milhões continuará a pagar taxas reais abaixo dos 20% e a incentivar a fuga de capitais para os offshores, incluindo o da Madeira! Entretanto, a efectivação da taxa sobre as mais-valias bolsistas vai esperando por melhores dias…
E para a farsa ser completa, juram que “não há alternativa” a este ataque feroz aos que sempre pagaram a crise. Sem entrar aqui em detalhes, as “15 medidas para uma economia decente” apresentadas pelo BE permitiriam um corte de 6,5% no défice até 2013, sem privatizar a água, os CTT ou os comboios, promovendo o emprego e a justiça social.
Mas os economistas do regime, os mesmos que nos conduziram à beira do abismo, querem obrigar-nos a dar um passo em frente. De cócoras perante os especuladores, dão-nos a escolher entre morrer do mal… ou da “cura”!
Tão patético como Teixeira dos Santos foi o ar compungido de Passos Coelho: “Peço desculpa aos portugueses por apoiar as medidas que o primeiro-ministro vai anunciar ao país” e que ele, coitado, ajudou cozinhar… Por este caminho, daqui a um ano estaremos pior.
Ao exaltar as virtudes cívicas dos portugueses, Teixeira dos Santos falou como se a Grécia, um dos berços da civilização mediterrânica, fosse terra de bárbaros. De facto, o povo português é sereno e tem-no sido, talvez demasiado, nas últimas décadas. Mas não abusem! É que, se nos virmos gregos, pode estoirar por aí uma qualquer Maria da Fonte…

GBH e Onslaught no Mira Fest em Odemira
Os britânicos GBH e Onslaught, assim como os portugueses Mata Ratos e Corpus Christii, são algumas das bandas confirmadas na edição deste ano do Mira