O polvo da mediocridade

Quinta-feira, 17 Setembro, 2020

Carlos Monteverde

Bater no fundo é viver num país onde um jornal semanário de fracas tiragens aumenta as suas vendas através da primeira desobediência conhecida em Portugal a uma providência cautelar decretada pelos tribunais. E se esta habilidade fraudulenta do obscuro arquitecto Saraiva passar impune, passa a valer tudo neste país, onde, este pasquim de “pretensas denuncias” publica uma data de porcarias em Portugal, mas corta aquelas que poderiam incomodar os seus accionistas angolanos, na edição que seguiu para Luanda.
A moralidade e a verticalidade do sr. Saraiva, que como arquitecto foi um fiasco e como jornalista, inventou o saco de plástico para guardar o “Expresso”, estão bem expressas nesta série de procedimentos menos dignos, de quem não olha a meios para atingir fins (vender jornais).
Mas adiante.
José Sócrates, já o disse, foi o melhor primeiro-ministro eleito neste país, não por palavras de circunstância ou submissão política, mas pelas medidas reformistas tomadas, de cariz social, económico e financeiro.
E são todas essas medidas que os portugueses gostariam de ver discutidas e aperfeiçoadas pelos “media” e pela Assembleia da República nestes tempos difíceis da crise. Em vez disso, e perante o cansaço progressivo de todos nós, assistimos ao matraquear diário das “conversas”, das “escutas”, do “diz-se, diz-se privado” do primeiro-ministro. O que dá a ideia da oposição que também elegemos e das suas enormes limitações. O país já percebeu o que significou eleger aquela rapaziada toda do Bloco de Esquerda, com uma cassete de discurso não muito diferente dos comunistas, que naturalmente passo adiante, e vai apreciando o posicionamento algo defensivo do CDS, que começa a ver a porta aberta para ocupar o lugar dum PSD que vai desaparecendo e perde cada vez mais espaço político. Todos assistimos atónitos à autofagia laranja, que também “exige” explicações ao primeiro-ministro das porcarias que o sr. Saraiva inventou no “Sol”. E para acabar em beleza, lá foi a eterna Manuela à televisão chamar mentiroso ao primeiro-ministro do país, numa atitude de rara elevação ética, a condizer com o magnífico penteado que quase faziam dela uma mulher interessante. Mas não percamos a esperança. Ainda por estas bandas, ressurgiu outra vez aquele rapaz do fatinho “Maconde” e voz estridente, o sr. Rangel das Europeias, que continua convencido ter ganho umas eleições que foi o PS a perder. Pois este “Conde de Andeiro” da d. Manuela, que tinha jurado não abandonar Bruxelas depois das críticas feitas às candidatas socialistas, resolveu interromper o nosso descanso e voltar a Portugal devido ao “momento gravíssimo que atravessamos”. Depois do Freeport e da Face Oculta, parece que vamos voltar a ter orgulho de ser portugueses. Isto se o rapaz ganhar o conclave laranja. E com a embalagem, matreiro como ele é, é bem capaz de também exigir ao primeiro-ministro explicações ao país sobre aquelas conversas de café que um amigo do jornalista Mário Crespo ouviu num restaurante. Assuntos tão relevantes que consumiram horas de debates televisivos entre jornalistas e comentadores tão distintos, cujos nomes dispenso de citar, mas que conduziram a uma coisa em que estamos todos de acordo. Todos os portugueses ficaram esclarecidos e enriquecidos com a discussão, até pela elevação e clareza dos debates. E que falta faz ao país este palavreado todo.
Uma palavra para sublinhar a cena patética da Comissão de Ética da Assembleia da República. Para além de todo aquele bando de marretas a ouvir as patetices do José Manuel Fernandes ou do Mário Crespo, o que os portugueses perguntam é: se o dinheiro dos nossos impostos serve para isto. Horas seguidas a relatar idiotices, pequenas vaidades e grandes frustrações. Haja Deus.
E já agora, gostava de perguntar sobre estes arautos que defendem a “liberdade de imprensa”. Algum destes fariseus que vemos diariamente na televisão teve uma palavrinha contra o casal McCann, que conseguiu que o tribunal proibisse a venda do livro <b><i>A Verdade da Mentira? </i></b> Será que alguma vez levantaram a voz a favor das dezenas de jornalistas russos assassinados nos últimos meses por pensarem diferente do sr. Putin? Ou será que a turba dos fariseus só gosta de malhar no eng. Sócrates? E a d. Manuela do penteado produzido para a TV, alguma vez se revoltou contra a censura fascista? Ou será que, na altura, eram os seus amigos que lá estavam? De facto, é preciso ter muita lata, ver figuras que foram coniventes com o regime fascista falarem agora em liberdade de imprensa, ou então ver estas figuras do “lumpen do proletariado” espalhados nas bancadas bloquistas e comunistas defenderem a Manuela Moura Guedes, esquecendo o que fizeram os “Saramagos” quando foram directores de jornais durante o Gonçalvismo. Aí sim, houve saneamentos políticos e atentados à liberdade de expressão. Em nome de uma esquerda reaccionária, que esta miudagem tenta perpetuar.
Uma palavra final para José Sócrates. O país vai percebendo o tipo de arraia-miúda que não aceitou a sua vitória eleitoral. E se acaso formos para eleições, vai dar-lhe novamente maioria absoluta, apesar dos blogues do Pacheco Pereira ou da ferocidade do Ricardinho Costa. Mas a maioria socialista de portugueses que deu as primeiras vitórias eleitorais a Mário Soares, a António Guterres e agora a José Sócrates, não aceita nem vai permitir a existência destes pequenos boys, agora demissionários, que ganham milhões nas empresas públicas e fazem contratos de milhões num país imaginário, enquanto a maioria dos jovens licenciados não têm emprego no país real e se juntam ao rol de milhares de desempregados que continuamos a ter e a quem a crise não promete um futuro brilhante. Por algum motivo as diferenças salariais crescem mais em Portugal do que na Europa.
E quanto às fundações como a do sr. Luís Figo, eu gostava de saber se para além do jogo de futebol a ‘favor dos pobrezinhos’ que faz todos os anos, elas não servem afinal de paraíso fiscal de fuga aos impostos. É que andamos todos fartos de mecenas que dão uns cêntimos aos pobrezinhos, enquanto metem uns milhões ao bolso.

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