No momento em que estou a escrever estas linhas completa-se precisamente uma semana em que o país, e a cidade de Beja de forma muito particular, foram testemunhas de um dos crimes mais bárbaros de que temos memória.
É difícil exprimir o que a cidade sentiu ao longo destes sete dias. Raiva? Revolta? Dor? Consternação? Um misto demasiado complexo para ser transposto para papel por simples palavras. Lentamente a cidade e os seus habitantes tentam retomar a normalidade de sempre. Mas não é fácil deitar para trás das costas a marca de violência injustificável que consumiu três inocentes de forma primária.
Ao longo destes sete dias muito foi dito e muito foi escrito. Pelos jornais. Pelas televisões e pelas rádios. Nos cafés. Nos locais de trabalho. Em casa.
Escreveram-se e disseram-se certamente verdades e mentiras, factos e invenções. Conviveram realidade e utopia nas mais elementares palavras de uma conversa de familiares ou de amigos.
Muito terá ficado por dizer e, sobretudo com a morte do confesso homicida, por esclarecer. Muita da curiosidade da opinião pública e da investigação a ser conduzida pelas autoridades competentes ficou irremediavelmente silenciada pelos lençóis de uma cela do Estabelecimento Prisional de Lisboa.
Depois de consumida uma dura e penosa semana em que fomos todos, uns mais e outros menos, jornalistas, investigadores criminais, psicólogos e outras coisas mais, interessa agora saber como a cidade e os seus habitantes irão conviver com este trágico acontecimento no futuro mais próximo. E é sobre um desses aspectos que me proponho hoje a uma breve reflexão.
A casa do crime na rua de Moçambique, n.º 15, em Beja. Primeiro andar.
A casa deveria simplesmente ser demolida. Não para apagar o acontecimento da memória da cidade, isso, infelizmente, não será possível. Até porque ficou gravado na memória de cada habitante desta cidade e não só. E por lá permanecerá para sempre.
Digo-o baseado naquilo que considero ser evidente.
Colocando-me na pele do outro morador da moradia, que habita no rés-de-chão. Se ali morasse e mesmo não tendo sido directamente na minha casa, não quereria mais ficar naquele espaço.
Deveria providenciar-se nova habitação, de valor comercial ou caracteristicas semelhantes, para o morador (pessoa ou família, não faço ideia) que morava por debaixo do local do crime.
Coloco-me na pele de um hipotético comprador de casa na cidade de Beja. Aquela seria certamente a casa que eu jamais compraria, nem que fosse a única à venda na cidade. Aliás, que não aceitaria nem que me fosse oferecida.
Coloco-me na pele de eventuais herdeiros. Não quereria retirar/obter dali qualquer valor. Poucos lugares do nosso país trarão piores memórias do aqueles metros quadrados da rua de Moçambique. Quanto mais depressa fosse destruída melhor.
Dito isto, haverá certamente um conjunto de leitores que, concordando com ideia que aqui deixo, estarão a colocar um conjunto de questões de ordem legal e a dizer que não é assim tão simples como sugeri. Admito que terão razão. São estes itens de caráter legal que muitas vezes impedem que se façam boas coisas. Tudo esbarra numa alíena escondida na portaria, num parágrafo solto do decreto-lei, numa norma de excepção de um código, numa qualquer circular do ministério.
“Quem procede à demolição, caro Paulo? Com que direito? Quem suporta os custos da operação? E se depois aparece alguém a reclamar algum direito quem indemniza? Você fala com emoção e está a sobrepô-la à razão.”
Raios, os custos… Há sempre custos. Há sempre questões de dinheiro envolvidas mesmo onde não deveria haver.
Fica a ideia que estará provavelmente condenada a quedar-se pelas páginas desta edição do “Correio Alentejo”.
Mas aquela casa não tem, objectivamente, condições para continuar a existir.
O espaço que actualmente ocupa deveria dar lugar a um pequeno jardim.
Com três árvores simbolizando as três vidas ceifadas.
E com uma fonte simbolizando a vida.
Um pequeno jardim de paz.
Seria um passo importante para que Beja se possa progressivamente reabilitar deste episódio de loucura e de tragédia que, de alguma forma, nos vitimou a todos.

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