As mulheres são enciclopédias,
tratados, teses, teoremas.
E os homens são dicionários
de bolso.
Só dizem as coisas básicas.
Para mulheres novas chegará,
será suficiente ir depressa
a direito,
morrer logo nas curvas,
fumar um cigarro,
lavar-se no bidé
e dormir.
Mas uma mulher madura é uma mistura
de queijo amanteigado,
pão quente
e vinho tinto
numa noite de Inverno
quando faz frio na rua.
Quer ter tempo de ter fome.
Quer ter tempo para saciar a fome.
Quer condutar.
Abrandar os braços do tempo.
Sentada no sofá,
ela sabe que as quatro mãos
sabem arder devagarinho.
São mãos de azinho
que crepitam sem pressas de cinza.
Sabem que a cinza há-de vir um dia
e por isso as brasas ardem devagar
num chão de casca de laranja.
As quatro mãos não se importam
que a carne saia da camisa de noite
e que as mãos levem mais tempo
a escalar as costas
e que as barrigas se empurrem
e que os peitos se tenham partido
e que na boca faltem dentes
e que os pijamas sejam difíceis
de despir
e que a testosterona e as hormonas
demorem a encher como um balde
se vai enchendo com chuva miudinha
e que as línguas
já não voem tanto no céu
da boca.
Um homem apaixonado
por uma mulher feita
gosta de vinho tinto.
E ela é encorpada,
os olhos são de vidro
verde quente,
tem odor a frutas maduras,
e os lábios são uvas carnudas
que ele pisa com os dele
para fazer saliva.
Bebe-a lentamente,
saboreia a complexidade
dos aromas na boca,
sente-a a entrar no sangue,
a dar-lhe a cor,
a chegar ao cérebro,
a ficar tonto,
a ficar alegre,
a ficar feliz,
a rir.
A rir devagarinho como
uma lesma feliz.
Riem os dois, abraçados
às varizes
e ainda com queijo amanteigado
nos dentes.
in <b><i>Maturação</i></b>