Queria dizer-lhe, mas já não posso, que consigo e mais alguns (não tantos como desejaria) aprendi os sentidos das ruas, das praças, dos largos, dos monumentos, das gentes e o porquê das pedras possuírem falas próprias. E dessas falas, onde muito existe para contar, guardo um respeito solene a quem as interpreta decifrando-as. Guardo um respeito enorme a quem lhes dedica uma vida inteira de pesquisa e investigação. O potencial das pedras reside na sua democratização. E democratizá-las foi o que fez durante tanto e tantos anos. Aprendemos a compreendê-las e aceitá-las como nossas. Aprendemos que lá atrás na história, havia um tempo que já é nosso. Só um presente activo, avalia e analisa um passado, para se objectivar no futuro.
Queria dizer-lhe, mas já não posso, que consigo e mais alguns (não tantos como desejaria) aprendi o porquê de sermos todos e sem distinção de espécie alguma, parte integrante deste avolumar de património. O porquê de estarmos todos e sem distinção de espécie alguma, inexoravelmente dentro deste património. Que um património é uma enciclopédia que não se controla de forma alguma. Não se lhe define quem é e quem não é. Não se lhe define quem está adjacente e quem não está. Não há lei maior que um homem. Todos somos espólio. Riqueza maior que esta…
Queria dizer-lhe, mas já não posso, que enquanto cidadão de Beja, me sinto extremamente grato e honrado pela doação que nobremente fez aos cidadãos desta terra no ido ano de 1987, do seu valiosíssimo espólio arqueológico/ bibliográfico, corolário de 40 anos de investigação e pesquisa. Face ao exposto, venho por este meio expressar o meu profundo desagrado pelo esquecimento a que foi votado o falecimento de uma das figuras mais ilustres da cidade de Beja. Não só enquanto arqueólogo, mas também como extraordinário professor, não ficando indiferentes as gerações e gerações de alunos que frequentaram as suas salas de aula. As cidades fazem-se todos os dias. Evocar e homenagear os homens que as engrandecem não é uma obrigação, é um dever. Dever inerente às instituições, aos cidadãos e aos meios de comunicação social. O problema está na fala dos homens. É a mais difícil de descodificar. Museu Municipal ou Núcleo Museológico Dr. Fernando Nunes Ribeiro, temos de nos esforçar para nos tornarmos dignos de estar associados aos nomes que nos levam mais longe.
<b>P.S.: </b>Sobre a figura ímpar mencionada nesta crónica, nem no “Correio Alentejo” se fez notícia. Não é assim que se marca a diferença.