Quando entrei no estúdio de gravação naquela noite de inverno de 2014, estava longe de imaginar que a minha vida iria sofrer uma volta de 180º.
O Pedro Pinto — também conhecido por Reflect — convidara-me para gravar um texto da sua malograda namorada, Carolina Tendon que, sem nada que o fizesse esperar, falecera meses antes durante o sono.
Acedi ao seu pedido, levando para além do texto da Carolina, um outro de minha autoria que pretendia registar chamado “Máscaras d’Orfeu”.
Nessa epifânica noite estavam presentes os músicos da sua banda. Aquando da altura de gravar este poema fecharam-se na régie para escutarem o que eu debitava ao microfone.
Quando terminei, ao saírem da sala de controlo, vinham com cara de caso.
O Pedro confessou (em nome de todos) haverem gostado muito das minhas palavras e da carga emocional que lhes transmitia. Agradeci e logo ali lhes lancei o repto de as musicarem.
Confesso que não depositei grandes esperanças de tal vir a acontecer. Tanto, que nunca mais me lembrei do assunto até o telefone voltar a tocar. Do outro lado da linha o Pedro convidava-me a passar pelo estúdio para escutar o resultado do desafio que lhes lançara.
Depois dos sempre necessários ajustes, o João Mestre atirou-se às teclas do piano tocando, martelando ou simplesmente sublinhando com inteligência e sensibilidade musical as palavras que entretanto memorizara. O Mauro Cunha, juntara-lhe entretanto umas cordas sampladas que faziam com que as palavras parecessem imaginárias bailarinas deslizando naquele tapete sonoro; e assim, já quando a noite já quase beijava o dia, havíamos criado a nossa primeira Canção Falada.
Depois dessa, muitas outras noites e madrugadas se lhe sucederam. Tantas, que às tantas, tínhamos material suficiente para levar para cima de um palco. E assim nasceu a performance 12 Canções Faladas e 1 Poema Desesperado, nome inspirado num livro de Pablo Neruda intitulado, 20 Poemas de Amor e 1 Canção Desesperada.
Agora, exactamente um ano passado sobre a primeira apresentação e depois de uma paragem para a gravação desta performance, regressamos amanhã (sábado, 20) de novo aos palcos para celebrarmos o lançamento do CD com o mesmo nome.
Bem sei que este é um exercício de narcisismo. Que deveria falar do que se passa ao meu redor em detrimento do que vai por mim adentro. Que se recomendaria ser mais inventivo, quiçá mais interveniente. Que me desculpem os leitores pela imodéstia desta crónica autobiográfica. A verdade é que, quando chegou a hora de escrevê-la, nada mais se me abeirava do pensamento.

Conselho Nacional do Chega reúne na cidade de Beja
O Chega convocou uma reunião do seu Conselho Nacional, órgão máximo entre congressos, para este domingo, 16, em Beja, para debater as mais que prováveis