Dúvida

Quinta-feira, 17 Julho, 2014

Vítor Encarnação

Ao contrário do que parece, a dúvida é essencial no processo de crescimento dos indivíduos. Pôr construtivamente em causa certezas rotuladas de inatacáveis e reabrir questões arbitrariamente encerradas é um princípio que, apesar de não estar incluído em nenhum currículo escolar ou de cada vez menos fazer parte de uma educação familiar criteriosa, deve ser ensinado desde a mais tenra idade.
As sociedades modernaças, apologistas de que a vida deve dar sempre resto zero, inimigas da filosofia, do pensamento livre e da literatura, têm pavor a esta postura. Por a considerarem atentatória da confortável dormência, tratam a inquietação como algo maligno que é preciso controlar e, se possível, banir da face da terra.
Face a esta progressiva anulação do indivíduo enquanto ser pensante e crítico, deve reanimar-se a pergunta, instaurar a dúvida, proclamar a incerteza. Às vezes quem vai sozinho em sentido contrário também está certo. E se não estiver, pelo menos acrescenta um toque de diferença e horizonte. Até o sol, que é uma verdade absoluta, tem vários tons e intensidades.
É pois necessário cultivar algum desassossego e instruir no sentido de duvidar. Não se trata de subversão ou anarquia. Trata-se sim de perceber o que está por detrás do pano neste palco onde nos mandam actuar.

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