Do céu ao inferno

Alberto Matos

dirigente do BE

Não posso começar sem uma referência aos dramáticos acontecimentos que envolveram os 33 mineiros, aprisionados no fundo da mina de S. José, no Chile. A cápsula “Fénix” que os devolveu ao convívio de familiares e amigos simbolizou uma autêntica subida aos céus, ao fim de 69 dias de angústia partilhada em directo por quase toda a humanidade.
“Não somos heróis, somos vítimas da irresponsabilidade dos donos da mina de São José”, lembrou o mineiro Franklin Lobos. Mas nada disto aconteceu por acaso, nem desapareceu por milagre, afirmaram 300 mineiros presentes na missa do acampamento “Esperanza”, em protesto contra os salários em atraso e as suas condições de vida e de trabalho miseráveis.
Por cá, em vez de subirmos aos céus, defrontamo-nos com o inferno do Orçamento para 2011. Não há outra palavra para classificar o desastre social deste Orçamento, imposto por banqueiros, servido pela mão do Governo PS/Sócrates e viabilizado pelo PSD/Passos Coelho, apesar das piruetas que o deixaram em maus lençóis perante os mestres Durão Barroso e Cavaco Silva.
Este Orçamento do “bloco central”, longe de ser “a única saída possível”, não resolve problema nenhum. Pelo contrário, lança a economia na recessão, aumenta o desemprego, reduz o consumo, alimenta a economia paralela, incentiva a fuga ao fisco com o IVA a 23% e, a médio prazo, fará disparar de novo o défice. Até porque os especuladores das agências de rating, como autênticas sanguessugas, querem sempre mais sangue.
Ao roubo de salários e pensões, soma-se o aumento brutal dos preços de produtos de primeira necessidade, como o pão e as próprias facturas da electricidade e da água, cada vez mais em vias de privatização.
Para termos uma medida global, todos estes sacrifícios impostos a quem sempre passou a vida a pagar a crise, a quem trabalha ou sobrevive de uma pensão, não dão sequer para pagar o buraco de 4 mil milhões de euros do BPN que o Estado cobriu generosamente com o dinheiro dos contribuintes. E, enquanto por cá apertamos o cinto, o ex-conselheiro de Estado Dias Loureiro goza férias e faz negócios na ilha do Sal, em Cabo Verde, ao abrigo de uma mais que justa estadia na prisão.
É comer e calar, dizem alguns. E quem cala consente… Infelizmente, há cada vez mais gente que não tem de comer e, assim, não tem nenhuma razão para se calar. A greve geral convocada pelas centrais sindicais para 24 de Novembro é o verdadeiro tribunal da opinião pública que vai chumbar este Orçamento.
E não estamos sós nesta luta: depois das greves gerais na Grécia e em Espanha, a França continua ao rubro – vejam lá, contra o aumento da idade de reforma dos 60 para os 62 anos!
A Europa social, a Europa dos povos, traída por Merkel & Sarkozy e pelos seus criados Durão Barroso, Cavaco Silva, Sócrates e Passos Coelho, está a ser defendida nas greves, nas barricadas e nas ruas por trabalhadores e estudantes.
É também por esta Europa que vamos fazer a maior greve geral de sempre, em 24 de Novembro!

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