Apesar da minha assumida antipatia pela tirania da vida saudável, um verdadeiro fascismo de costumes e aparências, sou forçado a reconhecer que estas delícias devem ser lesivas da saúde pública por diversas razões, propensas a inúmeras doenças, não fosse a verdade mais verdadeira do mundo, a madrasta máxima, de que tudo o que sabe bem ou faz mal ou é pecado! Ou como neste caso, um delicioso pecado que provavelmente faz mal! Mas um doce e abençoado pecado, daqueles que vale a pena pecar, não fosse a saúde um mero estado transitório que não augura nada de bom!
Saber fazer pecados é um arte que não é de todos, porquanto apenas mãos que transgrediram, mãos que conheceram a falta de virtude, podem encontrar a expiação acasalando de forma perfeita grandes quantidades de açúcar com ovos, deixando a chila namorar com a amêndoa, ou até, a insanidade de usar carne de porco num doce! Porque apenas mãos de freira, na candura de um convento, abençoadas com a quietude do século XV e XVI poderiam ter tido a pecaminosa ideia de oferecer ao país e ao mundo as delícias da gastronomia conventual alentejana, o mais saboroso e escondido pecado da nossa região!
Segredos deliciosos de origens perdidas nos séculos antigos que a actualidade ameaça fazer esquecer, não estivessemos perante a triste contingência de a doçaria conventual correr o risco de se perder ou extraviar: perder-se no esquecimento porque muitos desistiram de aprender e são poucos os que ainda conseguem ensinar; extraviar-se, porque na ganância irracional começamos ver nos hipermercados coisas esquisitas de estranho sabor, a quem perante a passividade de todos insistem em chamar doces conventuais, difamando estes, misturando-os com aquelas coisas sintéticas, sem sabor nem amor, sem ciência ou arte, que até podem baptizar de gourmet, mas são meros excrementos daquilo que é a verdadeira doçaria conventual, sendo que, perante este silêncio cúmplice, a sua vulgarização pode denegrir a verdadeira doçaria conventual!
Pelo que, agora mais do que nunca, urge revitalizar a doçaria conventual, organizar festas e feiras, chamar os seus especialistas e falar sobre ela, dar a conhecer a excelência da história e dos seus sabores: já o disse e escrevi no passado, porque o ouvi de outros mais sapientes que eu, que a doçaria conventual do Baixo Alentejo é das mais importantes marcas da cultura portuguesa, um imenso tesouro subaproveitado, que reúne em si todas as condições para ser uma bandeira desta cidade e desta região, pelo que, com vontade, empenho e algum talento, poder-se-ia fazer de 2011, Beja Capital da Doçaria!
Porque os doces conventuais são parte da nossa história, uma parte fantástica que a maioria desconhece! Porque os doces conventuais são, sejamos honestos, deliciosamente bons! Porque a doçaria é uma das verdadeiras razões para amar Beja! E sobretudo, porque em época de desemprego galopante, em tempos de desertificação crescente, a doçaria pode ser uma arma de iniciativa económica! Porque que mais que seja triste a verdade, Beja não tem mil razões de encanto, sendo insuportável que não consiga aproveitar as coisas em que somos realmente excepcionais, as valências em que somos melhores de que todos os outros!
PCP de Beja diz que OE fica “muito aquém” das necessidades da região
O Orçamento do Estado (OE) para 2025, já aprovado na generalidade, fica “muito aquém” das necessidades do Alentejo, considera a Direção da Organização Regional de