Por força de muitas e variadas circunstâncias, o insucesso e o abandono escolares têm florescido no nosso país nas últimas décadas, mesmo num contexto de escolaridade obrigatória e de progressiva democratização do ensino. Especialmente nas zonas socialmente problemáticas e nas regiões do interior, economicamente deprimidas, milhares de jovens abandonavam todos os anos o seu percurso escolar. Muitos porque não atingiam resultados escolares proficientes, outros porque não encontravam motivação suficiente num paradigma escolar massificador e pouco permeável às singularidades dissonantes, outros porque a tramada da vida batia-lhes à porta para convocá-los à marginalidade, ou para os lançar na dureza da luta pela subsistência, ou para os transformar em bengalas familiares, ou para os entorpecer em sonhos de responsabilização precoce, quase sempre desfeitos logo a seguir, mas tarde de mais para voltar atrás e recomeçar.
Mães adolescentes, jovens seduzidos pela expectativa da independência económica, jovens inadaptados e desacompanhados, jovens com dificuldades na aprendizagem e negligenciados, jovens aplicados mas requisitados pelas famílias para colaborar no sustento, jovens talentosos mas frustrados e desaproveitados. Jovens demissionários ou despedidos da escola. Jovens que não concluíram o 9º ano, jovens que não concluíram o 12º ano.
Hoje, aqueles jovens têm 30, 40, 50 anos. São adultos que perderam ou lhes roubaram a oportunidade de uma escolaridade que potencia oportunidades. São adultos que constituíram família, coleccionaram experiências profissionais precárias e a prazo, aprenderam ofícios, emigraram e imigraram, empregaram-se e desempregaram-se ou desempregaram-nos. Lutaram, desistiram, acomodaram-se, resistiram. Têm 30, 40, 50 anos. Não têm o 9º ano, não têm o 12º ano. Têm família. Têm encargos e contas para pagar. Têm uma crise filha da mãe a culpá-los ainda mais. Estão em casa, estão à procura, batalham, aguardam. Estão desempregados. Espreitam uma oportunidade, perseguem-na. Aproveitam-na.
Uma das novas oportunidades que o Governo nacional, com o patrocínio do Governo comunitário, resolveu em boa hora facultar a todos os cidadãos com idade igual ou superior a 18 anos, dá pelo nome de Cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA). Os cursos EFA visam e privilegiam a qualificação escolar e profissionalizante de adultos com dificuldades de inserção no mercado de trabalho, e proporcionam uma formação de base científica e tecnológica que permitem aos formandos a obtenção de um grau de escolaridade (fundamentalmente o 9º e 12º anos), mas também a aquisição de um conjunto de conhecimentos e competências técnicas (de acordo com o referencial tecnológico de cada curso) que reforçam e qualificam consideravelmente a empregabilidade, e promovem a coesão social. Para além disso, durante a frequência do curso, os formandos recebem ainda bolsa e subsídios de formação.
Os cursos EFA são estruturados no sentido de reconhecer e validar competências que os formandos adquiriram ao longo da vida, em função do seu trajecto profissional e pessoal, e do conjunto de ensinamentos informais que decorreram dessas experiências de vida. Estes cursos acolhem presentemente milhares de formandos espalhados por todo o país, envolvem uma apreciável diversidade de entidades promotoras e formadoras e ganham uma assinalável importância e pertinência em regiões como o Alentejo, historicamente marcada pelo desemprego, e pelos baixos níveis de qualificação escolar e profissional.
Os cursos EFA são também frequentemente desconsiderados e desvalorizados, tornados exemplos de facilitismo, de impreparação escolar, e de expedientes inconsequentes para baralhar as estatísticas da escolaridade, desemprego e da formação profissional.
Sou formador de alguns cursos EFA a funcionar em diversos concelhos do Baixo Alentejo, uns diurnos e outros em regime pós-laboral. Dou formação nas áreas de competência chave, Cidadania e Profissionalidade e Cultura, Língua e Comunicação (que integram a formação de base), e posso assegurar que tem sido uma experiência profundamente tocante e enriquecedora a todos os títulos: pessoal, humano, profissional. Devo dizer mais: tendo eu já exercido docência no ensino secundário, profissional e superior, nunca encontrei nesses contextos de aprendizagem o entusiasmo, a vontade de aprender, a apropriação pessoal dos conteúdos, a problematização existencial das matérias, a constância do interesse e da responsabilidade, que tenho encontrado junto dos meus formandos. E se um dos pressupostos dos cursos EFA é a flexibilidade do percurso de formação e a sua adequação ao perfil pessoal e socioprofissional do formando, não decorre daí que se comprometa o rigor e exigência do processo de ensino-aprendizagem, a abordagem problematizadora, e a criatividade e imaginação pedagógicas.
Tomara que a estas boas novas oportunidades de formação e qualificação académica e profissionalizante, se juntem, após a conclusão dos cursos, efectivas e sustentáveis oportunidades de ingresso ou recolocação destas pessoas no mercado de trabalho. Missão que cabe aos organismos públicos empregadores, às câmaras municipais, às estruturas associativas, ao tecido empresarial. E também aos beneficiários destes cursos, numa lógica de empreendorismo e de investimento no auto-emprego.
PS de Castro Verde acusa CDU de “falta de respeito e responsabilidade pública”
O PS de Castro Verde acusa a CDU de “falta de respeito e de responsabilidade pública”, devido ao facto de há seis reuniões consecutivas da