Beja a Ferro e Fogo – 2

José Barriga

Vou iniciar a segunda parte da minha crónica, “Beja a Ferro e Fogo” e logo com um assunto de grande importância para todos os bejenses: a criação de uma nova força política em Beja. Vou chamar-lhe a Aliança Comunista Social Liberal, formação iniciada antes da última campanha eleitoral para as autarquias e firmemente concretizada durante e depois das eleições.
Claro que não me estou a referir a uma aliança séria política/partidária, de convicções objetivas e com sustentabilidade ideológica. O verdadeiro sentido desta união, consiste no poder e nos benefícios pessoais. Naturalmente que quem representa (?) os partidos que, contra natura, se associaram oportunisticamente em Beja, não podem ter verdadeiras convicções políticas, a não ser a luta pelo “tacho”.
Pergunto-me, o que pensariam os antigos e verdadeiros comunistas que lutaram pelos seus ideais e pela liberdade, alguns deles até pagaram com a própria vida. Que pensariam se voltassem e vissem os seus dirigentes aliados a um partido de direita! Só teriam duas hipóteses, ou renegariam o partido ou morreriam novamente.
Em contrapartida, o que pensariam os antigos fundadores do PPD/PSD, ou pensam os genuínos militantes e simpatizantes do PPD/PDS, particularmente na região e em Beja, ao verem o seu partido associado a quem lhes quis roubar tudo, a quem os perseguiu depois do 25 de Abril, aos responsáveis pela Reforma Agrária e pela ocupação de casas e até de empresas? Só podem sentir-se desiludidos e revoltados com quem os representa.
Felizmente, muitos comunistas e muitos PSD não concordam com esta estranha e interesseira aliança. Não pelo respeito e convívio democrático, mas sim pelo evidente oportunismo político e ânsia de poder, sem olhar a meios nem a princípios, que os representantes destas forças partidárias de Beja, despudoradamente exibem. Vejamos:
– Alegres e privilegiadas relações entre altos dirigentes (regionais e locais) do PSD e da CDU, atuando em consonância sempre que necessário; defendem interesses comuns e evitam confrontar-se politicamente, mesmo em situações que vão contra os seus pretensos ideais.
– Coligações de grande conivência e apoio nas juntas de Freguesia da cidade, transparecendo grande partilha de interesses pessoais e económicos, a não ser que comunguem também os mesmos interesses ideológicos, será?
– Cumplicidade e conformismo do executivo CDU da Câmara de Beja, particularmente do seu Presidente, em relação a actuação com o poder central, com as políticas regionais e com as estruturas/entidades regionais e locais; Vejam-se os casos do Aeroporto, IP2, IP8, Hospital, Ferrovia, extinções de serviços… É caso para dizer que apenas falta ao Presidente da Câmara lamentar que tenha havido um Governo que fez o Aeroporto e tenha iniciado os IP2 e IP8; quem sabe, pedir mesmo desculpa por tal ter acontecido. A ambição do poder e o desejo de protagonismo, até onde levam?
Outro assunto que vos quero falar diz respeito à água, ao “ouro branco” do séc. XXI. Alqueva, com a sua grandeza e enorme fonte de riqueza para toda a nossa região, devia e merecia ter um tratamento muito diferente, e muito mais competente por parte dos atores políticos regionais, nomeadamente a Câmara de Beja e ACOS. A feira da água foi um estrondoso fracasso. Assumam-no! Foi demasiado mau em tudo. Na data, na organização, no número de visitantes e até na falta de respeito para com outras entidades e Câmaras vizinhas que há muito abordam o tema da água e de Alqueva. A imagem da Câmara de Beja e dos seus associados saiu muito mal tratada deste evento. Pior, a Câmara e os seus associados, arrastaram todo o concelho de Beja e mesmo a região, para uma quase humilhação, face à falta de profissionalismo, de competência, de cuidado e de visão demonstrados. Como reagirão futuramente os expositores? O que ficaram a pensar os investidores? Há quem não saiba o que é a água e para que realmente serve, apenas se querem servir dela para ganhar poder e dinheiro. Mas cuidado, a água é um bem de todos nós e até Alqueva também foi paga com o nosso sacrifício e com os nossos impostos. Não posso admitir que brinquem com a água ou que se queiram servir dela em proveito próprio.
Quanto custou a Feira da Água ao erário público, aos munícipes de Beja? Que proveitos trouxe e que consequências nefastas poderão vir no futuro? Tomemos apenas um pequeno exemplo, menos ambicioso, mas interessante e bem mais proveitoso para todo o concelho de Beja: a Feira do Barro em Beringel. Com poucos recursos externos, praticamente sem o apoio da Câmara de Beja, a feira do barro saldou-se por um grande sucesso, conseguido por uma excelente organização e parceria entre a Junta de Freguesia de Beringel e diversas associações locais. Com trabalho e humildade, foi dado um exemplo de modernidade e competência, elevando o nome de Beringel e do concelho de Beja, divulgando o que de melhor cá temos e fazemos.
Mas quero apontar o dedo a outras situações graves que se estão a passar no município de Beja, traduzindo comportamentos prepotentes e quase antidemocráticos do atual executivo camarário comunista. Não pensava ser possível nos nossos dias que se assistisse a casos próximos de autêntico terrorismo político na Câmara. Ostracizar funcionários, colocar trabalhadores/técnicos na prateleira, deslocá-los do local de trabalho sem qualquer justificação ou pedido de opinião e mesmo quase perseguir outros, é inadmissível. Apenas e sobretudo por terem ideias político-partidárias diferentes. Conta-se até que funcionários ficaram privados do computador e da secretária; há técnicos e/ou dirigentes que não têm funções atribuídas, outros desconhecem os seus objetivos de trabalho e avaliação. Pergunto, o que diferencia estas atitudes do que fazia a PIDE/DGS antes do 25 de Abril? Há que lembrar a este executivo que já não há “tarrafais” e a Sibéria fica muito longe…
Estranho silêncio, nem uma palavra dos grandes contestatários do anterior executivo municipal. As juntas de freguesia mais contestatárias (da Cabeça Gorda às Neves e Albernoa), as colectividades, associações e clubes desportivos, antes tão detratores e críticos (da Zona Azul ao Bairro de Nª Sra. da Conceição e Despertar, ou algumas associações e clubes das freguesias rurais), estão agora muito mais satisfeitos, recebem muito mais dinheiro e sempre pago a tempo e horas? São recebidos sempre que querem e pelo próprio Presidente da Câmara? Será que é mesmo assim, que corre tudo muito bem? Todavia sei, que várias associações e clubes mo confidenciaram, que estão piores do que estavam e sentem-se enganados. Então agora a culpa não é da Câmara. Será que a culpa é agora do governo? Se calhar até é da oposição!
Pegando num tema já referido, é deveras preocupante o abandono a que está a ser sujeito o Alentejo, especialmente o nosso distrito, pelo poder central. O manifesto desinteresse e falta de empenho político governamental dado ao Aeroporto, á modernização e eletrificação da ferrovia e às acessibilidades/estradas em geral, são problemas que considero de extrema gravidade. A perigosidade de algumas estradas, onde sobressaem o IP2 e IP8, é quase criminosa em termos de risco de sinistralidade. Pergunto então, onde está o deputado, bejense, eleito pelo PSD no distrito de Beja? Obviamente que não me refiro ao substituto que bem conhecemos mas sim àquele que prometeu mundos e fundos para Beja, que se comprometeu a resolver estes e outros problemas e, por esse facto, obteve um resultado histórico no nosso distrito? Só podemos constatar que este Sr. Deputado, agora ilustre membro do governo de Passos Coelho, nos enganou, a nós e à região onde nasceu. Está seguramente muito mais preocupado com o seu futuro, com a sua ambição pessoal ou com qualquer outro cargo que possa vir a desempenhar, do que com a sua terra.
O país vive uma situação quase dramática, o Alentejo, Beja (apesar de todo o seu potencial), tem cada vez menos gente e pouco peso político nos meandros do poder. Todavia, não resisto a enviar um conselho ao Partido Socialista e aos seus dirigentes locais e distritais, numa altura de acesa luta interna. Tenham cautela e bom senso, não assumam levianamente posições de força a favor ou contra os candidatos a líder do PS. Pensem sobretudo no que pensa o povo e no que será melhor para o país. Deixem para trás os interesses pessoais e as capelinhas. Não troquem a experiência da vida real, nem a esperança do povo, pelas experiências feitas nos tubos de ensaio dos laboratórios partidários. A realidade para todos nós, é demasiado dolorosa para poder ser repetida com outro exemplo de um governo liderado por um 1º ministro proveta, como infelizmente é o atual, oriundo dos laboratórios do PSD, sem qualquer noção do que é a vida real, limitado e sem conhecer o pulsar do povo. Não troquem uma vitória certa por uma derrota anunciada.
Para terminar e porque é para Beja que esta crónica é dedicada, pergunto ao executivo camarário de Beja:
– Qual a estratégia económica para o Concelho e para a região, pois para já o único projeto com dimensão conhecido no qual a Câmara interferiu ativa e diretamente, foi o da “papoila branca” e mesmo esse totalmente tratado e negociado pelo anterior executivo, desde a localização ao protocolo elaborado e pronto a assinar?
– Que políticas e acções objectivas municipais estão a ser desenvolvidas para manter e reforçar as Instituições e os serviços, públicos e privados, no Concelho (mesmo no distrito), quando se fala na diminuição de serviços na Educação, na Saúde e até que o Tribunal Administrativo e Fiscal poderá sair de Beja? Não é só dizer que esta contra é necessário saber o que se esta a fazer para evitar tais situações.
Para finalizar um agradecimento a Radio Pax e ao “Correio Alentejo”, pela publicação da minha cronica apesar das pressões que alguns querem exercer sobre a comunicação social, tentando evitar a todo o custo que a informação que não lhe é favorável seja difundida (são aqueles que em nome da Liberdade e da Democracia não passam de verdadeiros ditadores e controladores da Liberdade de expressão).Bem, vou ficar-me por aqui. Muitos outros assuntos poderiam ser abordados, mas fica para uma próxima oportunidade. Estarei sempre vigilante e disposto a defender a minha terra e as suas gentes. Contem comigo.
(escrito segundo o novo acordo ortográfico)

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