Baal quantos?

Sandra Serra

“Baal”, palavra semítica que significa Senhor, Lorde, Marido ou Dono (Don). Com o nome de Baal, os povos semitas ocidentais adoraram diversos deuses, todos de características semelhantes. Originariamente, Baal constituía, juntamente com El, a principal divindade do panteão cananeu, Baal era o deus da fertilidade e, associado à tempestade e à chuva, tinha lutas periódicas com Mot, senhor da seca e da morte. Nessa mitologia, Baal representava as forças activas da vida, enquanto EL estava associado à sabedoria e à prudência da maturidade. Os Fenícios adoptaram o culto de Baal, que chamavam Baal Shamem, senhor dos céus. Depois de chegar a Canaã, os israelitas passaram a chamar de Baal os deuses da região. No século IX a.C, Jezebel pretendeu substituir o culto de lavé pelo de Baal, o que provocou o repúdio deste. Baal passou a representar, para os israelitas, a abominação e os falsos deuses. Nestas circunstâncias, aliadas à crença de que os cartagineses sacrificavam os seus primogénitos a Baal Hammon, atribuíram ao deus uma imagem sanguinária
Ao longo dos tempos, o nome “Baal” foi sendo adoptado, muitas vezes apoiado na sua conotação mítica sanguinária, outras, por mera adopção de iniciais que acabaram por compor o nome, outras…sabe-se lá porquê.
A ver. Em 1918, “Baal” seria a primeira peça longa de Bertolt Brecht, numa história que retrata a vida de um poeta e cantor bêbado, rude e mulherengo. Em 1994, cinco músicos dinamarqueses juntam-se para a formar a banda pop/heavy rock “Baal”. “Temple of Baal” seria o nome adoptado, em 1998, pela banda de black metal francesa, que evoca os “valores” de Satanás. “Baal” foi também o nome adoptado por Karen Blauermel, famosa actriz alemã nascida em 1940.
Corria o ano de 2000, quando em Serpa, Portugal, seria formada a Baal 17 – Companhia de Teatro na Educação do Baixo Alentejo. O nome, estranho ao ouvido, tinha uma lógica bastante simples. “Baal”, de Baixo Alentejo, 17, porque eram, na altura, os 17 concelhos com que a estrutura teatral se propunha a trabalhar.
Em 2006, o nome Baal volta a ecoar nos ouvidos dos alentejanos, desta vez como Baal 21. O Movimento de Afirmação do Baixo Alentejo e Alentejo Litoral é o último a entrar na família Baal, o segundo a utilizar a sigla como Baixo Alentejo (acrescentou-lhe o Alentejo Litoral que bate certo). Sem qualquer (acredito) referência ao deus (escapasse-me se sem qualquer referência à origem da palavra semítica) a escolha desta designação levanta, contudo, a dúvida: E então, meus senhores, fraca imaginação, desconhecimento, altivez, “falta de lembrança”, comodismo?
E como “há que dizer-se das coisas o somenos que elas são”, que fique bem esclarecido que “se for um copo é um copo se for um cão é um cão”. E assim como assim, e na possibilidade da palavra ou sigla Baal vir a florescer como outrora o epíteto “Café Central”, aqui fica a lembrança: o 17 e 21 já estão ocupados.

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