Uma OPA aos futebóis de Portugal

Carlos Monteverde

Eu sou dos que vejo com tristeza que os jornais desportivos vendem mais no nosso país que quaisquer outros.
Em qualquer lugar público é vulgar ver um português de qualquer condição social com a “A Bola” ou o “ Record” debaixo do braço. Para ler os comentários ao jogo do seu clube, como correram os treinos da semana, ver se o joelho do Mantorras ainda existe, se o Carlos Martins está outra vez lesionado ou se algum clube comprou mais um brasileiro, bom de bola e que chuta com os dois pés.
Por uns momentos esquece-se o dia-a-dia que os chamados jornais de informação iriam agravar e enchemos o peito de ar na convicção que o nosso clube vai ganhar o próximo jogo. E porque se diz que o futebol é um jogo de acasos e incertezas, até se criou o Totobola aqui há uns anos para se tentar acertar nos resultados e perder mais um dinheirito semanal.
Afinal, nas últimas semanas vieram-nos confirmar aquilo que já se dizia nos corredores da má-língua. Há gravações de Presidentes de Clubes a combinar a escolha de árbitros e outras arbitrariedades, que o mesmo é dizer, a combinar o resultado dos jogos. Oferecem–se meninas aos árbitros nos fins dos jogos, pagam-se viagens ao Brasil a um árbitro, que afinal a agência de viagens mandou indevidamente para a tesouraria do FCP (enganos classificados como patuscos, já se vê) e chega-se mais facilmente a árbitro internacional conforme o grau de colaboração com os cavalheiros que não precisam do Totobola para acertar no resultado dos jogos.
Como sabem isto passa-se em Portugal que é um país divertido. Tivemos pergaminhos no Humor. Desde Bordalo Pinheiro a Vasco Santana, de António Silva a Raul Solnado, sorrimos na “Sátira Política”, no “Leão da Estrela” e na “Canção de Lisboa”. Depois, passámos ao humor tipo ordinário que vai de Herman José ao Sr. Fernando Rocha, que consegue pôr plateias a repetir palavrões e lá ficam todos contentes. Depois apareceu o Alberto João da Madeira e agora temos o Sr. Fiúza do Gil Vicente, a organizar excursões ao Estádio da Luz e a aproveitar uma ribalta temporária.
Assim se chega e sai do “Apito Dourado”, que os jornais desportivos nunca trataram de forma aprofundada. É que o futebol é um negócio para muitos, em que como de costume alguns enchem os bolsos, e a maioria, os mesmos de sempre, pagam e alimentam, para além dos impostos obrigatórios.
Estou convencido e julgo que muitos portugueses também, que por iguais critérios daqueles que a justiça italiana usou, em Portugal e no nosso futebol, os efeitos seriam mais devastadores. E penso que não devemos desistir. E que cada um de nós deve fazer ouvir a sua voz, para que o nosso direito à indignação não deixe morrer mais uma situação que, a par de outras ,entristecem o nosso quotidiano e são mais um estímulo à teoria de que neste país os mafiosos se pavoneiam impunemente.
O Futebol é um desporto popular, agradável de ver quando bem jogado e que os portugueses gostam. É naturalmente bonito e patriótico no bom sentido o apoio que o povo dá à nossa Selecção na altura dos diversos campeonatos.
O Futebol devia, por isso, ter outro tipo de pessoas a comandar os seus destinos. É preocupante que o Sr. Valentim Loureiro continue a ter tempo de antena neste país até serem apuradas as suas responsabilidades no que de pior tem o desporto deste país. É preocupante que o Sr. Gilberto Madaíl, com as limitações que lhe são conhecidas, se mantenha como Presidente da Federação. E que tudo permitem.
Que o Sr. Pinto da Costa e alguns industriais do Norte telefonem impunemente aos árbitros e ao Presidente da Comissão de Arbitragem. Quantos campeonatos se resolveram assim? E os telefonemas do sr. L. F. Vieira que agora parece estar numa de moralista e afinal também utiliza os mesmos processos? Já se terá esquecido este senhor da maneira como o Benfica ganhou o campeonato de há 2 anos? Foi jogo limpo? Nós não esquecemos que o Benfica já teve Presidentes como os Srs Fezas Vital e Borges Coutinho, esses sim à altura da grandeza do Clube. Certamente incapazes de organizar jogos contra o Estoril, no Algarve…etc, etc.
Afinal o mais importante é ganhar e o menos importante é os meios de como lá se chega, pois o que fica para a história são os títulos e não o resto. E o dinheiro que se vai buscar à Liga dos Campeões, que permite perpetuar todo este clima dúbio onde afinal tudo se compra.
Era bom que não se pudesse dourar o Apito Dourado. Continuamos a denunciar fortes suspeições, mas continuamos a arquivar mais do que a investigar ou esclarecer. Parece que basta ter dinheiro para pagar aos advogados e perpetuar o não esclarecimento das coisas até que tudo seja esquecido.
Preocupante é a entrevista dada ao “Record” de 10 de Setembro por um árbitro chamado Carlos Duarte que é ao mesmo tempo advogado. Em relação ao processo do Apito Dourado, diz que a investigação da PJ é vergonhosa e que o processo está parado porque há falta de entendimento entre magistrados e procuradores.
Como diz o poeta “ vemos, ouvimos e lemos”. Eu não quero acreditar.
Da minha parte e sempre que me aparece o sr. major Valentim na televisão, tenho a felicidade de poder fazer “zapping”.

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