autárquicas: uma Leitura nacional a partir do local

José Carlos Albino

consultor

Sobre partidos ganhadores e perdedores, a leitura é linear. Perderam PSD, CDS e Bloco de Esquerda (BE). Ganharam PS e PCP. Ganhou o “partido dos sem partido”. Numa análise funcional, perdeu o Governo, ganhou a oposição. Quanto a posicionamento político, perdeu a Direita, ganhou a Esquerda, com todas as contradições que esta divisão encerra, à Direita e à Esquerda.
Quanto à dimensão de vitórias e derrotas, matéria mais subjectiva, há nuances que importa arriscar. O PSD teve uma estrondosa derrota, não esmagadora. O PS teve enorme vitória, mas venceu por pontos, não por KO. O PCP teve uma grande vitória, mas confinada a territórios de duas regiões a sul. O CDS coligado teve uma enorme derrota, mas a solo teve vitórias simbólicas, numa parcela regional a norte. O BE sofreu profunda derrota.
Quanto à dimensão da derrota do Governo, direi que foi duramente ao tapete, mas, ainda de joelhos, vai-se levantando, mas coxo. A oposição é oposições. Na grande, o PS credibilizou-se na indignação e na hipótese de alternativa de poder. A média, PCP, consolidou-se como força sócio-política de protesto. A micro, BE, ficou abalada, sem força sócio-local.
Mas na coligação no poder, PSD e CDS, emergiram novas nuvens ameaçadoras de trovoadas. No PSD, a liderança treme e, logo, persiste na rigidez, acossada por concorrências. O CDS balança, como sempre, entre ser ou conservar-se no poder. Só nos tempos próximos, se verá como evoluem as reais contradições ideológicas e tácticas.
No PS surgem dúvidas ou diferenças na acção política nesta nova fase pós-vitórias. A liderança abre-se ou persiste nos mesmos a questão. Até final do ano ver-se-á. O PCP persistirá no rumo de sempre, congregando-se na identidade combativa. Mudanças são cartas fora do baralho. O BE entrará em retiros internos, exprimindo-se publicamente como esquerda unificadora no Parlamento. Novas se vedra.
Mas agora os olhares para os acontecimentos eleitorais locais e cabeça para os interpretar. As grandes ou surpreendentes vitórias locais, dos partidos ou dos “sem partido”, estão todas ligadas à afirmação de lideranças congregadoras de vontades comuns. As derrotas, grandes e médias, relacionadas com golpes aparelhistas, de lideranças forçadas. Umas e outras atingindo todos.
Das mais mediáticas, fala-se de Lisboa, Porto, Sintra, Gaia, Loures, Braga ou Coimbra, quanto a vencedores e derrotados e, por um lado ou outro, a congregação ou fechamento são as causas das coisas. Neste domínio, pouco se releva o caso inédito e vencedor do Funchal, onde imensa coligação forjou projecto comum, apenas deixando de fora o auto-suficiente PCP e o poder PSD.
Mas no Alentejo aconteceu de tudo, menos vitórias de sem partido. E consagrou “dinossauros” como presidentes encartados. Em Aljustrel, Alcácer do Sal, Almodôvar, Évora ou Grândola são derrotadas lideranças exigidas pelos gloriosos aparelhos e vencem lideranças congregadoras e/ou socialmente identificadas. Aqui é o PS o mais atingido, justificando percas evitáveis.
Voltando ao nacional, considero que estará na capacidade e vontade de forjar projectos congregadores, nas lideranças e nas propostas, que ditará a solidez das alternativas em presença. Nesta linha, os partidos serão obrigados a partos dolorosos ou perderão os comboios dos tempos actuais. Todos os activistas, nos partidos e noutros processos, serão postos à prova.
Os próximos futuros dirão da justeza ou não destas análises e perspectivas e, principalmente, da saúde da nossa democracia para forjar um real com futuro. Atentamente, observemos e actuemos!

30 de Setembro de 2013

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