A moral foi criada pelo Homem. Se errar é humano, logo a moral é falível.
Mas não parece que o seja, pelo menos aos olhos e nas palavras de algumas pessoas. São imaculadas e virtuosas, santas, beatificadas em vida. Incapazes de um pensamento ruim, de um desejo de carne, de um laivo de prazer, lavam as belas alminhas como quem lava os dentes antes de se deitar. E ao mínimo barulho afastam lentamente as cortinas das janelas dos seus quartos benzidos para verem quem passa. E com quem está. Para verem quem entra e quem sai da quadratura da moral. Limpa e engomada.
Ao mínimo desvio dos outros, sacam da cartilha e falam de cátedra. Mas nunca olhos nos olhos. Não que isso não é de bom tom. É preciso ser-se discreto acima de tudo.
As pessoas têm de se resguardar e preservar o bom nome. Por isso agacham-se no escuro ou sentam-se em mesas de café suficientemente afastadas. E a salvo de qualquer confrontação, entregam-se de corpo e alma à purificação da espécie humana e condenam à revelia, conspiram em surdina, golpeiam sem misericórdia. Fazem justiça pelas próprias bocas, em nome da comunidade, dos valores familiares, dos bons costumes e da moral.
(Na vida nunca caíram em tentação e livraram-se sempre do mal).
Trazem uma tocha acesa mostrando o caminho do bem, iluminando o mundo todo – principalmente a sua terra – com a luz da verdade e nunca caem na lama porque têm asas de anjos. E também têm casas onde vivem anjos que são seus filhos, os seus maridos, as suas esposas. E há outras casas onde vivem outros anjos que são os que lhe dizem sempre que sim. E há também os Anjos-Mor que são aqueles que mandam nos anjos de classe inferior. E estes talvez por se sentirem de facto inferiores, vão atrás de choros e estão sempre prontos a defender os anjos maiores.
Mas tantos são os anjos da guarda que eu duvido que caibam todos no céu.
(E daí talvez até caibam. Desde que não levem as línguas).
Tentam, a muito custo, manter os seus esqueletos no armário.
Fecham os segredos a cadeado e calam as memórias mais inconvenientes. Quem não sabe é como quem não vê e a aparência é que conta. O momento é a glória. Porque os vícios são privados. Públicas e luzidias as virtudes. Nunca beberão desta água, dizem. Ignoram o vidro dos telhados.
Preferem servir a moralidade às colheradas. Onde quer que calhe.
Uma de manhã e outra ao deitar faz bem e erradica as opiniões diferentes.
Moral da crónica: a moral não se consegue ver ao espelho.

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